domingo, dezembro 10, 2006

Sociedade em Rede

Reflexão sobre a obra de Manuel Castells


"A revolução da tecnologia da informação e a reestruturação do capitalismo introduziram uma nova forma de sociedade, a sociedade em rede" (M. Castells).

O sociólogo catalão Manuel Castells na trilogia “A sociedade de informação” faz um apanhado mundial das mutações em curso provocadas pela Sociedade em rede. Em boa verdade, numa sociedade cada vez mais comunicacional e global, novas formas de marginalização surgem, com destaque para os info-excluídos, não só dos países menos desenvolvidos, mas também daqueles que nas sociedades mais tecnológicas estão de fora.

Em simultâneo, com o desenvolvimento, os conceitos como globalização, flexibilidade e rentabilidade do trabalho passaram a coabitar com a necessidade de se encontrar um caminho de, através dessa nova infra-estrutura comunicacional, construir uma sociedade melhor, aproveitando as potencialidades da sociedade informacional como forma de combater as desvantagens de um mundo desigual em termos demográficos, sociais, políticos, económicos e culturais.

Para alguns autores como Dominique Wolton (1999:28-29), o surgimento de novas formas de comunicação vieram levantar questões essenciais tais como:

“(…) para que servem todas estas tecnologias de comunicação? Qual a relação entre as necessidades de comunicação dos homens e das sociedades e das sociedades e esta explosão da tecnologias? Até que ponto vai a necessidade humana de comunicar? Que relação existe entre relação técnica e comunicação humana? Para que servem todas estas cadeias de entregas ao domicilio? E qual a utilidade de poder consultar directamente a Biblioteca de Alexandria ou a do Congresso dos Estados Unidos? Quais são os custos e o preço desta revolução? Que desigualdades e que relações de força dela emanam? Que problemas resolvem as tecnologias de comunicação, e que problemas colocam? Face a estas questões de bom senso, o dogma actual – pois trata-se de um dogma – assimila a felicidade individual e colectiva à capacidade de estar ‘ligado’”.

No primeiro volume da trilogia “A sociedade de informação”, Castells (2002:25) faz a distinção entre os conceitos de “sociedade da informação” e “sociedade informacional”. No primeiro caso, é destacado o papel da informação na sociedade. No segundo, está implicada a existência “de uma forma específica de organização social na qual a produção de informação, o seu processamento e transmissão se tornam nas fontes principais da produtividade e do poder”.

O autor defende ainda que “a economia é informacional (…) pois os atributos culturais e institucionais de todo o sistema social devem ser incluídos na implementação e difusão do novo paradigma tecnológico” (Castells, 2002: 122).

O novo paradigma – o da tecnologia da informação – possui como componentes cinco factores:
a informação é a matéria-prima;
penetra em todos os sectores da actividade humana;
está estruturada em rede;
é altamente flexível – admite a readaptação permanente - e, por último, está aberta convergência e à interdisciplinaridade ao admitir a união de diferentes áreas.
A sociedade em rede

“As novas tecnologias da informação estão a integrar o mundo em redes globais de instrumentalidade” (Castells, 2001:26).
A “nova economia” é “informacional, global e em rede” (2002: 95).

No final do segundo milénio da Era Cristã, foram vários os acontecimentos historicamente importantes que transformaram o cenário social da vida humana. Uma revolução tecnológica, centrada nas tecnologias da informação, começou a remodelar, de forma acelerada, a base material da sociedade. (...) O próprio capitalismo passou por um processo de profunda reestruturação, caracterizado por maior flexibilidade na gestão; pela descentralização e ligação em rede das empresas entre si e com outras empresas; pelo considerável fortalecimento do capital em relação ao trabalho, com o declínio concomitante da influência do movimento sindical; pela crescente individualização e diversificação das relações de trabalho; pela incorporação maciça de mulheres na força de trabalho remunerado (...) pela intervenção do Estado para desregular os mercados de forma selectiva e destruir o Estado-Providência”.
(Castells, 2002).

A emergência de um novo paradigma tecnológico organizado em torno das novas tecnologias de informação com mais capacidades e mais flexíveis permite que a própria informação se torne num produto do processo de produção” (Castells, 2002: 96).

Para Castells existe uma dualidade entre o espaço dos fluxos e o espaço dos lugares. O primeiro é o lugar das redes globais. Situa-se algures no ciberespaço, o mesmo em que se localiza a Internet, as intranets, as redes de Multibanco, os circuitos financeiros as redes de telecomunicações, isto é, o espaço da “era da informação”, local por excelência do poder, circulação de dinheiro e de informação.
Geograficamente ficamos órfãos. Na nova acepção de tempo e espaço navegamos em nenhures. Para Castells esta desterritorialização traz uma vantagem: a lógica organizacional não depende do espaço, ao contrário das organizações situados numa dada morada, constituídas por pessoas e que são dependentes desse espaço. A lógica organizacional encontra-se no espaço dos fluxos, que se situa acima do dos lugares, por isso, menos permissiva a ser influenciada por contextos sociais. É aqui que entra a globalização. De um lado estão as potências que “habitam” o espaço dos fluxos e o dominam e, por outra, estão aqueles que se encontram no espaço dos lugares: incapazes de negociar, com menos formação, sem poder sobre o investimento, os excluídos.
Para debater:
O que é a Internet? O que é a Sociedade em Rede? O que é a nova economia? O que é uma Cidade Digital? Qual o impacto das novas tecnologias nas nossas vidas? Existe jornalismo on-line? Quem são os webjornalistas? Os jornais vão acabar? Que novas formas de sociabilidade surgirão? Diminuiram as assimetrias entre países desenvolvidos e não desenvolvidos? Afinal, existe uma aldeia global?
Textos de Apoio:

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Apresentação de Livro no Orfeão - 8 Dezembro, 17h


Dia 08 de Dezembro pelas 17h, Orfeão de Santa Maria da Feira, no âmbito da Feira do Livro

Sessão de autógrafos com Rui Pedro Silva
Apresentação do Livro: "Contigo Torno-me Real"

O "Contigo Torno-me Real" é um livro sobre os Doors em homenagem a Jim Morrison, versando a sua influência na arte e o culto que lhe é prestado. É uma obra que tem a plena aceitação dos três Doors sobreviventes (com os quais o autor tem relações cordiais) assim como as personalidades mais significativas do staff original da banda e artistas nacionais e internacionais.

O Prefácio foi escrito por Jac Holzman, o Presidente e Fundador da Elektra Records, a editora que lançou a banda. Foi Jac Holzman que retirou os Doors do circuito de clubes da Sunset Boulevard em Los Angeles (Whisky a Go-Go), assinou contracto com eles e deu-os a conhecer ao mundo. Tal como os Doors Holzman lançou os Queen, Alice Cooper, Tim Buckley e muitos outros. Jerry Hopkins e Danny Sugerman, autores da biografia oficial dos Doors: "Daqui Ninguém Sai Vivo", são também algumas das ilustres personalidades internacionais que compõe a obra.
Nesta obra, Rui Pedro Silva quis também dar voz aos músicos portugueses e dessa forma convidou diferentes artistas e confrontou várias gerações desses músicos. Dos participantes destacam-se nomes como: Rui Veloso, Sérgio Godinho, Jorge Palma, Tim e Zé Pedro (Xutos e Pontapés), António Manuel Ribeiro (UHF), Luís Represas, Pedro Abrunhosa, João Grande (Táxi) Adolfo Luxúria Canibal (Mão Morta), Fernando Girão, Fernando Martins (Ritual Tejo) Miguel Guedes (Blind Zero), Abel Beja (Primitive Reason), Carlos Tê (compositor), Corvos, Quinta do Bill, Santos e Pecadores, etc.


O autor:
Para além da paixão pela mítica banda do Rei Lagarto, Rui Pedro Silva é licenciado em Ciências da Comunicação que concluiu em 2000 com uma tese que versa o contraste entre o homem (Jim Morrison) e o seu mito (o Rei Lagarto). Em 2001 foi considerado o maior fã dos Doors em Portugal. Essa distinção veio da própria Warner Music e da Rádio Comercial. Um dos factores que pesou crucialmente para essa escolha foi a transposição do conhecimento e afecto que tem
pelos Doors para um trabalho científico.

A 3 de Julho de 2001, foi convidado a estar presente no tributo do 30º aniversário da morte de Jim Morrison em Paris. Esteve no cemitério de Père Lachaise (no túmulo de Morrison) na companhia de Ray Manzarek (organista dos Doors), Danny Sugerman (Biógrafo dos Doors) e de milhares de fãs provenientes de todos os recantos do mundo. Poucas horas mais tarde, esteve a convite no magnífico tributo restrito que Ray Manzarek e Danny Sugerman prepararam para os fãs e que decorreu no teatro parisiense "Les Bouffes Du Nord". Nesse teatro Rui Silva assistiu a momentos únicos e estreitou laços com Ray e Danny que viriam a revelar-se cruciais.

Fim de semana no Luso-Brasileiro

sexta-feira, dia 8
15h00 PULSAR GLAUBERIANODi - Glauber, Glauber Rocha, 18’Dramática, Ava Gaitan Rocha, 19’De Glauber Para Jirges, André Ristum, 18’
16h45 BRASIL REAL 1À Margem do Concreto, Evaldo Mocarzel, BR, 84
20h30 Sangue Novo: Gustavo Acioli Cão Guia, 18’Numa Noite Qualquer, 11’Nada a Declarar, 9’Mora na Filosofia, 9’
22h00 Filme Produzido pelos 10 Anos do Festival de Santa Maria da Feira Rusga, Rui Pedro Tendinha, PT, 16’
22h30 Sessão Competitiva de Longas Metragens 5 Incuráveis, Gustavo Acioli, BR, 82’
24h00 Sessão Competitiva de Longas Metragens 6 Wood & Stock – Sexo, Orégano e Rock’N’Roll, Otto Guerra, BR, 81’

sábado, dia 9
15h00 BRASIL REAL 2 Atos dos Homens, Kiko Goifman, BR, 75’
16h45 SESSÃO ESPECIAL 1Rockumentário, Sandra Castiço, PT, 40’Humanos – A Vida em Variações, António Ferreira, PT, 33’
20h30 Sessão Competitiva de Curtas Metragens 5Alguma Coisa Assim, Esmir Filho, BR, 15’A Vida ao Lado, Gustavo Galvão, BR, 12’Vermelho Rubro do Céu da Boca, Sofia Federico, BR, 18’Noite de Sexta Manhã de Sábado, Kleber Mendonça Filho, BR, 15’
22h00 Sessão Competitiva de Longas Metragens 7 O Céu de Suely, Karim Ainouz, BR, 88’
24h00 Somos Todos Filhos da TerraBerlinball, Anna Azevedo, BR, 17’Stuart, Zepe, PT, 11’Estertor, Davi Moori, Victor Reis, Diogo Dias, BR, 15’Teoria da Paisagem, Roberto Bellini, BR, 3’Sniper # 1, Paulo Abreu, PT, 3’Tyger, Guilherme Marcondes, BR, 4’Tapa na Pantera, Rafael Gomes, Esmir Filho, Mariana Bastos, BR, 3’

domingo, dia 10
15h00 BRASIL REAL 3 Meninas, Sandra Werneck, BR, 71’
16h45 SESSÃO ESPECIAL 2Quarta B, Marcelo Galvão, BR, 90’
20h30 SESSÃO ESPECIAL 3O Ano Mais Longo, Marco Martins, PT, 30’
21h30 Sessão de Encerramento Entrega de PrémiosCarreiras, Domingos de Oliveira, BR, 73’

Fim de semana no Luso-Brasileiro



Hoje no auditório da Biblioteca Municipal

20h30 Sessão Competitiva de Curtas Metragens 4 Jonas e a Baleia, Felipe Bragança, BR, 19’Joyce, Caroline Leone, BR, 14’Beijo de Sal, Fellipe Gamarano Barbosa, BR, 18’Realce, João Carrilho, PT, 13’

22h00 Sessão Competitiva de Longas Metragens 4 A Concepção, José Eduardo Belmonte, BR, 90’
24h00 Edgard NavarroAlice no País das Mil Novilhas, 18’O Rei do Cagaço, 9’Exposed, 7’Porta de Fogo, 21’Lin e Katazan, 8’Superoutro, 45’

domingo, novembro 26, 2006

O fabrico de acontecimentos

Uma das prioridades no universo da comunicação passa pela necessidade de se ser notícia. Seja nos meios políticos, desportivos, culturais, económicos, científicos e até religiosos há uma procura incessante pela conquista de um espaço na esfera mediática. De preferência a conquista desse espaço espera-se pela divulgação de uma imagem favorável.

Na verdade, a intenção de fazer parte do espaço mediático, - de uma forma positiva -, é um dos esforços do trabalho dos profissionais de comunicação e de Relações Públicas. A ideia é transmitir uma boa imagem, conquistar notoriedade, torna-se de certo modo visível junto da opinião pública, cada vez mais “orientada” pelos Meios de Comunicação Social nos seus modos de pensar, e sobre o que pensar (agenda-setting), dos seus modos agir e até nos comportamentos, hábitos e atitudes.

Daniel Boorstin criou a propósito o termo pseudo-evento, um acontecimento não espontâneo, criado apenas e só para ocupar um espaço no universo mediático.

De facto, os pseudo-eventos são “acontecimentos” criados com o objectivo de serem noticiados, isto é, se não fossem organizados nunca seriam notícia.

Boorstin também se referiu às fugas de informação. Tal como lembra Serrano: “A "fuga" tornou-se uma instituição, sendo um dos processos mais usados na transmissão de informações por parte das fontes oficiais. Boorstin define a “fuga” como um meio, através do qual uma fonte oficial com um propósito bem definido, fornece uma informação, faz uma pergunta ou uma sugestão. Mais que um anúncio directo, a "fuga" presta-se muito melhor a esconder determinados objectivos. A "fuga" é o pseudo-evento por excelência. Na sua origem e crescimento, a "fuga" ilustra outro dos axiomas do mundo dos pseudo-eventos: um pseudo-evento produz novos pseudo-eventos. A "fuga" começou como uma prática ocasional de uma fonte oficial transmitir informação confidencial a alguns jornalistas. Hoje, tornou-se uma maneira institucional de transmitir informação. A sua ambiguidade e o ambiente de confidência e intriga em que se processa criam um clima de confiança entre jornalistas e fontes. As regras respeitantes ao “off record” e à atribuição das fontes são especialmente importantes no caso das “fugas” de informação”.

Os bastidores

A chamada informação de background e os encontros off-record (informação partilhada entre intervenientes e jornalistas sem que os primeiros assumam as declarações e os segundos revelem a identidade dos primeiros) têm sido formas habituais de se publicarem notícias.
À posteriori algumas destas declarações são desmentidas.

Características de um pseudo-evento:
- Não é espontâneo
- é planeado e produzido com antecedência.
- é produzido para ser objecto de cobertura mediática, para adquirir visibilidade.

Para Estrela Serrano:

"A conferência de imprensa de Fátima Felgueiras, no passado dia 11, transmitida em directo na abertura dos principais noticiários dos três canais de televisão, constitui um pseudo-evento, no sentido em que o define Daniel Boorstin – acontecimentos ‘artificiais’, não espontâneos, criados para serem cobertos pelos media e cujo sucesso depende da amplitude da sua cobertura. Correspondem à procura crescente de notícias que caracteriza as democracias contemporâneas”.

“Os políticos e os jornalistas são os maiores criadores de pseudo-eventos. Os primeiros, porque precisam de ser notícia, na medida em que é essencialmente através dos media que transmitem aos cidadãos as suas propostas e as suas ideias, e os segundos porque precisam de satisfazer as expectativas dos seus públicos em matéria de informação. Para corresponderem a essas expectativas, e não existindo acontecimentos ‘naturais’ em número suficiente para ‘alimentar’ a procura de notícias, os media criam pseudo-eventos. Como refere Boorstin, o ‘repórter de sucesso’ é aquele que é capaz de encontrar uma história mesmo que não tenha acontecido nada de relevante. E, se não consegue encontrá-la, pode sempre questionar uma figura pública para obter uma declaração ‘interessante’. Pode, também, descobrir um surpreendente ‘interesse público’ num qualquer evento vulgar, através da técnica ‘a notícia por detrás da notícia’”.



LEITURAS IMPORTANTES:

SERRANO, ESTRELA
"O relato antecipado", , Diário de Notícias, Lisboa, 24/6/01
"Jornalismo e Elites do Poder", Ciberlegenda, nº 12, 2003

TORRES, EDUARDO CINTRA
"A feliz prisioneira", Público

sábado, novembro 18, 2006

Breve Glossário de comunicação

·1 Gatekeeper.
É visto como filtro ou porteiro da informação.

·2 Newsmaking.
É considerado o conjunto de rotinas e de critérios profissionais do processo produtivo.

·3 Unwitting bias.
Resultante da cultura profissional, da ideologia dos jornalistas.

·4 Newsworthiness.
Refere-se ao conjunto de regras que estabelecem as rotinas relativas aos critérios de noticiabilidade.

·5 Agenda-setting.
Abrange a hierarquização dos temas tratados pela imprensa.

·6 Tematização.
Diz respeito às modalidades particulares do agenda-setting.

·7 Event/news.
São os acontecimentos noticiosos veiculados pelos meios de comunicação social.

·8 News/values.
São os Valores/Notícia.

Fonte: Sociuslogia

As influências...

“Segundo Schudson, a acção pessoal, a acção social e a acção cultural, em inter-relação, são as três principais explicações para que as notícias sejam como são. Em conformidade com a acção pessoal, as notícias são vistas como um produto das pessoas e das suas intenções; a acção social dá ênfase ao papel das organizações (vistas como mais do que a soma das pessoas que as constituem) e dos seus constrangimentos na conformação da notícia; a acção cultural perspectiva as notícias como um produto da cultura e dos limites do que é culturalmente concebível no seio dessa cultura: isto é, uma dada sociedade, num determinado momento, só consegue produzir uma determinada classe de notícias. (Schudson, 1988: 20) Esta última asserção vai ao encontro do que diz McQuail (1991: 256), que refere que grande parte dos conteúdos das notícias resultam da reelaboração de temas e imagens procedentes do passado cultural”.

SOUSA, Jorge Pedro

A produção de informação

NEWSMAKING

Que imagem do mundo fornecem os jornais e os noticiários televisivos ou radiofónicos ?

"Wolf lembra que Lewin elaborou a noção de gatekeeper num estudo sobre as dinâmicas existentes no interior de grupos sociais. A pesquisa, desenvolvida há quase 50 anos, preocupava-se especificamente com mudanças de hábitos alimentares. O psicólogo percebeu a existência de "zonas filtro'', depois das quais o fluxo de forças modificava-se. Elas funcionavam como uma grande porta, aberta ou fechada. Um conjunto de regras ou um indivíduo (ou um grupo deles, os gatekeepers) que deixa ou não passar a informação controlam essas zonas. Esse conceito foi aproveitado por David Manning White, em 1950, num estudo que analisava os fluxos de notícias dentro de órgãos de informação.

Pesquisas posteriores (Robinson, 1981) destacaram o facto que a seleção de notícias têm um caráter menos subjetivo do que o senso comum pensa:

As decisões do gatekeeper são tomadas menos a partir de uma avaliação Individual da noticiabilidade do que em relação a um conjunto de valores que incluem critérios, quer profissionais, quer organizativos, tais como a eficiência, a produção de notícias, a rapidez. (Robinson apud Wolf: 2002, 181)

É a partir da elaboração desse conceito que a hipótese de estudo Newsmaking toma corpo. Ela é uma espécie de sociologia do emissor (na maior parte das vezes as pesquisas referem-se a jornalistas), analisando as rotinas de produção da notícia e selecção, que constroem o critério de noticiabilidade.

Esse critério depende de um conjunto de valores-notícia que são um "conjunto de qualidades narrativas dos acontecimentos que permitem uma construção narrativa jornalística'' (Hohlfeldt: 2001, 209).

Adaptado a partir do artigo de Lucilene Breier.

Pontos a ter em conta no fenómeno de produção de notícias_

- Cultura profissional dos jornalistas e a organização do trabalho e dos processos produtivos
A produção da notícia tem de cumprir três obrigações
* tornar possível o conhecimento de um facto desconhecido como acontecimento notável
* devem elaborar formas de relatar os acontecimentos livres de idiossincrasias
* devem organizar o trabalho de forma planificada

- Os valores-notícia: que acontecimentos são considerados suficientemente interessantes, significativos e relevantes para virarem notícia?

"Wolf divide os valores-notícia em cinco grupos, os relativos ao conteúdo (substantivos), à disponibilidade do material e ao produto, ao meio, ao público e à concorrência. A primeira categoria inclui aspectos como a importância dos indivíduos e a quantidade de pessoas envolvidas no acontecimento e as possibilidades de evolução futura da história. A segunda e a terceira avaliam desde a quetão da possibilidade de um jornalista obter a informação (acessibilidade de fontes, proximidade do facto) até o formato/apresentação da notícia e o equilíbrio de conteúdo em uma edição (de telejornal, impresso ou programa de rádio, por exemplo). A quarta refere-se à ideia - que Wolf destaca como não precisa - que os profissionais têm de seu público e seu interesse. Por fim, a quinta, relacionada à concorrência, é o questionamento constante sobre o que outros veículos noticiam ou não, tentando alcançar uma espécie de padrão de qualidade, e a necessidade de publicar os chamados ``furos''. "

(Fonte: Breier, Lucilene - Jornalista e professora da Pontifícia Universidade Católica, Brasil)


Os portões que seleccionam as notícias


GATEKEEPING

"Termo inglês da gíria dos estudos de comunicação social, proposto inicialmente por David Manning White, em 1950, que literalmente remete para a guarda de um portão, significando uma espécie de depuração de todas as informações veiculadas num noticiário. O indivíduo responsável por este trabalho de selecção da informação noticiosa chama-se gatekeeper (...)
Para de alguma forma garantir o interesse público, protegendo-o de informações eticamente inadequadas, ou de acordo com critérios exclusivamente jornalísticos, é costume filtrar os dados sobre um acontecimento que merece ser noticiado, de forma a evitar certas opiniões, interpretações ou explicações que possam não corresponder àquilo que os responsáveis pela edição do noticiário entendem dever convir ao seu público".
Definição de Carlos Ceia

"Os Portais, ao surgirem não são já apenas motores ou directórios de informação, tem um valor comercial pelo facto de levarem até lá um extenso número de utilizadores, pelo que o comércio, a par de novos serviços e notícias, se vem juntar às suas funcionalidades iniciais.
Mas não bastará percepcionar o papel central dos Portais para a gestão da informação, importa igualmente ter presente que os mesmos actuam como gatekeepers, não tanto na perspectiva tradicional de utilização do termo, mais referenciada face à imprensa em geral, mas como filtros quer positivos quer negativos, ou seja, a pesquisa realizada por estes é feita com base em opções de valorização ou desvalorização de ocorrências. (...) Por último, importa igualmente referir que muitos dos próprios motores de pesquisa reajustam os seus resultados hierarquicamente em função das opções mais escolhidas nas utilizações anteriores".

Excerto do texto de Gustavo Cardoso

A escolha do que é notícia



AGENDA SETTING



"A teoria do agenda-setting (estabelecimento da agenda - ou, melhor dito, de agendas) é uma teoria que procura explicar um certo tipo de efeitos cumulativos a curto prazo que resultam da abordagem de assuntos concretos por parte da comunicação social. Apresentada por McCombs e Shaw (1972) e elaborada a partir do estudo da campanha eleitoral para a Presidência dos Estados Unidos de 1968, essa teoria destaca que os meios de comunicação têm a capacidade não intencional de agendar temas que são objecto de debate público em cada momento".
(SOUSA, Jorge Pedro)

Reflectir McLuhan


"No outro dos seus livros, Understanding media, McLuhan considera que os media são extensões dos sentidos do homem e das suas funções: a roda como extensão do pé, a escrita como extensão da vista, o vestuário como extensão da pele, os circuitos eléctricos como extensão do sistema nervoso central (1979: 390). Ainda não era o computador, mas ele estava próximo de se tornar um elemento massificado. McLuhan defendia que os media alteram a relação do homem com o seu meio envolvente. Na televisão, por exemplo, não interessa tanto o programa em si mas o modo de recepção, totalmente diferente de outros modos (como o livro, a escola ou o museu). Daí a sua metáfora: o meio é a mensagem - um tipo de relação do receptor com o referente".

Aconselha-se a leitura do texto de Rogério Santos (Indústrias Culturais)

McLuhan - a aldeia global

A Escola Canadiana

"Foi na década de cinquenta que alguns pesquisadores canadianos começaram a notar que era preciso estudar também os efeitos dos meios de comunicação enquanto tecnologia e não apenas os seus efeitos enquanto difusores de mensagens. Numa metáfora simples, o comboio em si terá sido mais importante para modificar as sociedades e a civilização do que as mercadorias que transportava, embora sem excluir que algumas dessas mercadorias tenham sido igualmente importantes nessas transformações. Porém, os teóricos da Escola Canadiana, particularmente McLuhan, foram mais longe, tendo salientado que a influência dos meios de comunicação sobre a sociedade e a civilização era globalmente positiva.
Innis (1950; 1951) destacou a ideia de que a aparição de novos meios de comunicação trazia consigo alterações na noção de tempo e de espaço, pois os meios de comunicação ou privilegiam o tempo ou o espaço. Por exemplo, as inscrições em pedra visam a sua durabilidade temporal, mas dificilmente vencem o espaço, porque são difíceis de transportar; inversamente, a comunicação electrónica é quase instantânea, mas também mais ou menos efémera. A comunicação impressa sobre papel estaria no meio destes dois pólos.
Para Innis, a utilização preferencial de um determinado meio de comunicação gera uma organização diferente da sociedade - a comunicação era não apenas o motor do desenvolvimento económico como também o motor da própria história. A título exemplificativo, a aparição do papel e o surgimento da tipografia gutemberguiana teriam conduzido ao reforço ou aparecimento de identidades nacionais e até ao nacionalismo, já que a imprensa (mais) rapidamente informava as pessoas do que acontecia num país e a burocracia possibilitava não só a chegada das mesmas ordens e instruções a todo o território como também a partilha de direitos e deveres.
O autor deixou também a noção de que a oralidade, implicando um contacto interpessoal que, apelando a diversos sentidos, era intenso, favorecia a integração em pequenas comunidades, a criação de consensos, a memória histórica pessoal e as formas tradicionais de poder. Deu como exemplo as primeiras culturas humanas. Pelo contrário, a escrita teria imposto o domínio de um único sentido, a visão, o que teria trazido a diminuição da intensidade da vivência humana e permitido a monopolização do saber. Para Innis, a tipografia, devido à repetição uniforme dos mesmos conteúdos, conduziu à massificação. Porém, a televisão e a rádio estariam a marcar um regresso à oralidade, condição imprescindível para, segundo ele, se recriarem as vias da participação democrática e dar nova intensidade às mundivivências.
McLuhan foi o herdeiro por excelência das concepções de Innis e o expoente da Escola Canadiana, talvez mais devido ao aproveitamento que os meios audiovisuais fizeram da sua pessoa do que à originalidade das suas ideias.
McLuhan (1962; 1964) segmentou a história da humanidade em várias etapas configuradas pelo predomínio de um determinado meio de comunicação. A primeira teria sido marcada pela cultura oral e pelo tribalismo dela decorrente. O aparecimento da escrita teria transformado as sociedades, criando condições para o aparecimento das civilizações e das primeiras entidades territoriais. Mas também teria tirado o homem do “paraíso tribal”. A seguir surge a tipografia, que teria conduzido à massificação e ao aparecimento ou ao reforço das identidades nacionais. A esta etapa McLuhan deu o nome de Galáxia Gutemberg, uma denominação que perdurou. Finalmente, a comunicação electrónica global teria permitido a aparição da Galáxia Marconi, marcada pelo regresso à comunicação oral, susceptível de integrar a humanidade numa espécie de “tribo planetária” que viveria num mundo transformado em “aldeia global” (...).

SOUSA, Jorge Pedro "As notícias e os seus efeitos"


McLuhan, M.

domingo, novembro 12, 2006

Lista livros:

Lista livros escolhidos para a recensão crítica:

*RAMONET, IGNACIO (1999), A Tirania da Comunicação, Campo dos Media, Campo das Letras, 139 págs. ( ANA LÚCIA CORREIA DOS SANTOS)

*RAMONET, IGNACIO (2000), Propagandas Silenciosas..., Campo dos Media, Campo das Letras, 232 págs. (RICARDO OLIVEIRA)

*RAMONET, IGNACIO (2003), Guerras do séc. XXI, Campo dos Media, Campo das Letras, 176 págs. ( SIMÃO PEDRO PEREIRA DE OLIVEIRA DIAS)

*RAMONET, IGNACIO (2005), Iraque - História de um desastre, Campo das Letras, 136 págs. (PEDRo MIGUEL GAMA DA COSTA)

*Florence AUBENAS Miguel BENASAYAGA Fabricação da Informação. Os jornalistas e a ideologia da comunicação - (FABIANA ALMEIDA SILVA)

*E. Cintra TORRES Reality shows: ritos de passagem da sociedade do espectáculo (ANA GOMES RIBEIRO DE OLIVEIRA AGUIAR)

*SILVA, ELSA COSTA E - Os donos da notícia. Concentração da propriedade dos media em Portugal (MÁRCIA CRISTINA PEREIRA DE OLIVEIRA)

*HALIMI , SERGE - Os novos cães de guarda Ano publicação: 1998 Editora: Celta Editora Nº. Páginas: 117 págs ( MARTA CRISTINA DA SILVA LOPES)

* LETRIA, JOAQUIM - A verdade confiscada (BÁRBARA LUISA DE SOUSA PEREIRA

*SANTOS, JOSE RODRIGUES - A VERDADE DA GUERRA Editor: Gradiva Publicações Ano de Edição: 2002N.º de Páginas: 260 (MARCO ANTÓNIO COELHO BRANDÃO)

*SILVEIRINHA, Maria João "As mulheres e os media" (JOÃO VALTER RAMOS GUILHERME)

Apoio bibliográfico:

Fontes informação matéria leccionada nas últimas aulas:
*FERIN, Isabel (2002), “Comunicação e culturas do quotidiano”. Lisboa: Quimera.

*MATTELART, Armand e Michelle (1999), “História das Teorias da Comunicação”. S. Paulo: Loyola.

*SANTOS, José Rodrigues dos (1992), “O que é a Comunicação?”. Lisboa: Difusão Cultural.

*SOUSA, Jorge Pedro (2000), “As notícias e os seus efeitos”. Lisboa: Edições Minerva

Disponíveis on-line:
*SILVA, Andreia Fernandes (2006), “Os Meios de Comunicação Social enquanto elementos de Regulação Cultural – breve apontamento”.
*SOUSA, Jorge Pedro (2006), “Elementos de Teoria e Pesquisa da Comunicação e dos Media”.

outras correntes...

Outras correntes analíticas do processo de comunicação:

ESTUDOS CULTURAIS
A perspectiva dos Cultural Studies reúne os trabalhos desenvolvidos em torno do Centro de Estudos da Cultura Contemporânea da Escola de Birmingham.
Não tem como centro da preocupação os meios de comunicação de massa, mas a cultura.

Objectivo: estudo da cultura contemporânea e a articulação entre meios de comunicação de massa, cultura e estrutura social - entendendo-se o espaço dos meios de comunicação como lugar central de produção da cultura.
A Escola de Birmingham insere-se, de forma específica, na tendência a se considerar as estruturas sociais e o contexto histórico enquanto factores essenciais para se compreender os meios de comunicação de massa.

É atribuída uma importância central às estruturas globais da sociedade e às circunstâncias concretas. Os estudos ingleses partem de uma redefinição do que se entende por cultura, rompendo com os pressupostos marxistas que encaravam a cultura apenas como pertencente ao campo das ideias, que seria reflexo das relações de produção, da estrutura económica - de acordo com a clássica dicotomia mecânica entre infra-estrutura e super-estrutura.

Para Stuart Hall, a “cultura não é uma prática, nem é simplesmente a descrição da soma dos hábitos e costumes de uma sociedade. Passa por todas as práticas sociais e é a soma de suas inter-relações”.
TEORIA DOS ESTUDOS CULTURAIS (CULTURAL STUDIES) OU ESCOLA DE BIRMINGAM.

"Os trabalhos pioneiros em que se alicerçaram os estudos culturais talvez tenham sido The Uses of Literacy (1958), de Richard Hoggart, o fundador do Centro e seu primeiro director, Culture and Society (1958), de Raymond Williams, e The Making for the English Working Class (1963), de E. P. Thompson. Na opinião de Stuart Hall (1980a: 16), um dos principais autores de referência no campo dos estudos culturais aplicados ao jornalismo e segundo director do Centro, esses livros não pretenderam inaugurar uma nova disciplina, mas a partir dos seus diferentes âmbitos acabaram por delimitar um novo campo de estudos que se opunha ao paradigma funcionalista americano, que tinha crescente aceitação na Europa (Rodrigues dos Santos, 1992: 51), e revia as posições da crítica marxista, do estruturalismo francês e da Escola de Frankfurt, embora investigasse as questões da ideologia. De acordo com Hall (1980c: 63), os estudos culturais vêem a cultura como o conjunto intrincado de todas as práticas sociais e estas práticas como uma forma comum de actividade humana que molda o curso da história".
Excerto de SOUSA, JORGE PEDRO "AS NOTÍCIAS E OS SEUS EFEITOS"


TEORIA CRÍTICA
Criada em 1923 em Frankfurt, na Alemanha por nomes como Horkheimer, Adorno, Marcuse, Habermas; Lowental, Fromm, etc, pensadores influenciados porMarx, Freud, Hegel, Kant e Nietzche. Se, nos EUA, predominava a chamada “pesquisa administrativa” com os estudos funcionalistas e a corrente dos efeitos (step flow), na Europa a Escola de Frankfurt procurava consolidar-se como uma perspectiva mais crítica, a partir de uma avaliação da construção científica e ao papel ideológico que as ciências estariam a prestar ao sistema capitalista. Após a II Guerra Mundial, muitos pesquisadores alemães emigraram, e, em 1950, no Institute of Social Research, em Nova Iorque, foi retomada a actividade de estudo e pesquisa. O ponto de partida para esta teoria é a análise do sistema de economia de mercado: desemprego, crises económicas, militarismo, condição global das massas. É uma teoria que aborda temas como o autoritarismo, a indústria cultural e a transformações dos conflitos sociais nas sociedades industrializadas. TEORIA CRÍTICA OU ESCOLA DE FRANKFURT


"Held (1980: 80) salienta que uma das novidades trazidas pela Escola de Frankfurt foi a insistência em tratar-se a cultura integrada no meio social em que era produzida, e não como uma coisa à parte, sendo que os meios de comunicação social deveriam ser tratados como componentes dessa cultura. Inclusivamente, em 1947, Adorno e Horkheimer publicaram um artigo em que baptizaram a indústria mediática como indústria cultural, ou seja, indústria de produção simbólica, de produção de sentidos. O termo pegou, talvez devido à sua aplicabilidade, já que, ao ser (principalmente) indústria, a produção cultural estaria a perder a originalidade e a criatividade e a cair na estandardização e homogeneização dos produtos culturais. Esta opção, todavia, reduzia os riscos, facultava as vendas desses produtos e, por consequência, tendia a dar lucro. O consumo ditaria, assim, a produção. A lógica da produção cultural seria a lógica do mercado. Mas, o reverso da medalha é que as pessoas deixariam de ser autoras da cultura para se transformarem em vítimas de uma cultura de estereótipos e baixa qualidade dominantemente difundida pelos meios de comunicação social.
Para se impor, a indústria cultural, na versão de Adorno e Horkheimer (1947), teve de construir mitos, sendo um deles o da individualidade. Porém, mergulhado num caldo de cultura homogéneo, o indivíduo deixaria de se diferenciar. Pelo contrário, cada vez se assemelharia mais aos outros indivíduos. Os conflitos nada alterariam de substancial. Seriam até, principalmente, meros simulacros destinados a aparentar uma heterogeneidade que na realidade não existiria".

(...)
"Na versão de Adorno e Horkheimer (1947), o ritmo rápido com que são apresentados os produtos da indústria cultural e o carácter sedutor de cada um deles entorpeceria a desarmaria as pessoas, auxiliando a sua manipulação. O domínio da indústria cultural dever-se-ia, assim, a essa estrutura. Metaforicamente, os indivíduos pouco mais seriam do que ovelhas à mercê do lobo".
Excerto de SOUSA, JORGE PEDRO "AS NOTÍCIAS E OS SEUS EFEITOS"

Two step model - opinion leaders



Ao longo da história dos Estudos sobre Comunicação foram várias as teorias que tentaram encontrar explicações sobre o modo como se comunica, como se pretende comunicar e como se recebe/ interpretam os conteúdos comunicados.
Após a teoria das balas mágicas começaram a ser "descobertos" e analisados outros "intervenientes" no processo comunicativo. A percepção da existência de elementos mediadores entre as informações emitidas pelos media e os indíviduos, os opinion leaders, veio alterar a visão hegemónica e passiva do poder influenciador e até manipulador desses mesmos MCS.


"The two-step flow of communication hypothesis was first introduced by Paul Lazarsfeld, Bernard Berelson, and Hazel Gaudet in The People's Choice, a 1944 study focused on the process of decision-making during a Presidential election campaign. These researchers expected to find empirical support for the direct influence of media messages on voting intentions. They were surprised to discover, however, that informal, personal contacts were mentioned far more frequently than exposure to radio or newspaper as sources of influence on voting behavior. Armed with this data, Katz and Lazarsfeld developed the two-step flow theory of mass communication". (Fonte: TCW)


Informação de apoio à teoria Two step flow of communication.


"Em 1944, Lazarsfeld, Berelson e Gaudet publicaram The People’s Choice: How the Voters Makes His Mind in a Presidential Campaign, obra que resultou de um estudo científico destinado a averiguar a influência da imprensa e da rádio sobre a decisão de voto dos cidadãos de uma cidadezinha do Ohio, Erie County. Nesse livro, os comunicólogos perceberam que os meios de comunicação estavam longe de ter um poder quase ilimitado sobre as pessoas. Pelo contrário, havia que contar com um mecanismo que os autores denominaram como “exposição selectiva”. E havia ainda que contar com a influência de determinados agentes mediadores entre os media e as pessoas (fluxo de comunicação em duas etapas), os líderes de opinião, cuja acção se exerceria ao nível da comunicação interpessoal.
Em relação ao primeiro mecanismo, os autores descobriram que as pessoas tendiam a ler ou escutar aquilo com que de antemão já estavam de acordo e as pessoas com quem concordavam. Por seu turno, os líderes de opinião, mais receptivos a receber informação, promoviam a circulação da informação que recebiam no seu contexto social imediato e também conseguiam influenciar as pessoas no seu entorno. Percebia-se, assim, que os meios de comunicação não eram os únicos agentes que influenciavam as decisões das pessoas e que, por vezes, nem sequer eram os mais poderosos desses agentes. E percebia-se igualmente que as pessoas apresentavam mecanismos de defesa contra a persuasão, nomeadamente contra a persuasão mediaticamente induzida, conforme evidenciava a exposição selectiva.
Prosseguindo os estudos sobre a comunicação política, Berelson, Lazarsfeld e McPhee lançaram, em 1954, o livro Voting: A Study of Opinion Formation During a Presidential Campaign, no qual não só confirmariam a “lei” da exposição selectiva e a influência dos líderes de opinião como verificaram a existência de outro mecanismo de resistência à persuasão, a “percepção selectiva”, pois os eleitores estudados pareciam mais receptivos às posições que reforçavam e ratificavam as suas próprias ideias.
Em 1955, foi dado à estampa um novo trabalho dentro do mesmo tema, desta feita denominado Personal Influence: The Part Played by People in the Flow of Mass Communication. Dirigido por Katz e Lazarsfeld, o trabalho identificava ainda a “lei” da memorização selectiva: as pessoas não só se expunham aos conteúdos dos meios de maneira selectiva, como também os percepcionavam de maneira selectiva e -aqui estava a novidade- tendiam a memorizar essencialmente a informação que mais se adequava às suas ideias".


(Fonte: SOUSA, Jorge Pedro "As notícias e os seus efeitos...")

segunda-feira, outubro 30, 2006

Documentário dá prémio às melhores críticas

“Waiting for Europe” – “À Espera da Europa” é um documentário sobre uma mulher búlgara à procura dos seus sonhos, entre a Bulgária, Espanha e Portugal. É um filme sobre vizinhos europeus e sobre como se conhecem uns aos outros. Trata-se de um retrato íntimo que procura reflectir sobre a esperança de que esta utopia – a Comunidade Europeia – se torne um dia realidade.

No âmbito da exibição do filme em todo o país a produtora promove um concurso dirigido aos estudantes do ensino secundário e superior, onde os estudantes são desafiados a fazer crítica ao filme “Waiting for Europe”. Informações em www.waitingforeurope.net.

Estreia-debate, dia 3 de Novembro, pelas 21h30, no auditório da Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira.

terça-feira, outubro 24, 2006

CRIANÇAS INVISÍVEIS


26 DE OUTUBRO, QUINTA-FEIRA,
NA BIBLIOTECA MUNICIPAL DE SANTA MARIA DA FEIRA

ALL THE INVISIBLE CHILDREN é uma colectânea de 7 curtas-metragens, dirigida por cineastas de prestígio internacional, que narram, através da sua perspectiva pessoal, histórias únicas sobre as condições de vida das crianças na região do mundo de que são originários.
A perturbante história de MEHDI CHAREF, Tanza, retira o seu nome do herói do filme, um rapaz de 12 anos que se alista num exército de lutadores pela liberdade; o inspirado segmento de EMIR KUSTURICA, Blue Gypsy, conta a comovente história de um jovem cigano; o poderoso filme de SPIKE LEE, Jesus Children of America, conta-nos a luta de uma adolescente de Brooklyn que descobre ser a filha seropositiva de um casal de toxicodependentes; a pungente contribuição de KATIA LUND, intitulada Bilu & João, retrata um dia na vida de duas crianças com espírito de iniciativa, nas ruas de São Paulo; JORDAN SCOTT E RIDLEY SCOTT co-dirigiram o hipnótico Jonathan, escrito por Jordan, descrevendo a vida de um repórter fotográfico, cuja desesperada necessidade de escapar ao seu tormento pessoal o permite regressar à sua infância; STEFANO VENERUSO co-escreveu e dirigiu Ciro, a história de um jovem a viver entre o crime e as brincadeiras próprias da sua idade, nos bairros pobres de Nápoles; e o tocante filme de JOHN WOO, Song Song & Little Cat, segue o laço muito especial entre um órfão sem dinheiro e uma jovem rica mas, perturbada.

sábado, outubro 21, 2006

Algumas conclusões do estudo sobre A Guerra dos Mundos

H. Cantrill foi o responsável por estudar o efeito e as causas do pânico criado pela emissão de Welles.

Conclusões:
- 28 % dos ouvintes acreditaram tratar-se de uma reportagem autêntica
- 70 % assustaram-se ou ficaram perturbados.

Causas:
1º) - Realismo do programa (reportagens, locutores, directos, declarações de pessoas em pânico...)

2.°) - Credibilidade do meio Rádio na altura

3°) — Prestígio dos locutores (Lei do Emissor) - credibilidade associada a algumas fontes/pessoas que falaram aos microfones

4°) — Linguagem (tom coloquial) / os sons em rádio assumem um papel importante

5°) — Sintonizações tardias (as advertencias de que era um programa baseado num romance radiofónico foram no início da emissão (a maioria não estava a sintonizar) e ao fim de 40 minutos de emissão (quando o pânico já estava instalado)).

Bullet Theory - a teoria das balas mágicas

Que poder têm os MCS?
Qual o efeito que produzem nos cidadãos?


A conclusão dos primeiros comunicólogos foi a de que a determinados estímulos emitidos pelos MCM decorriam efeitos precisos e esperados.

A teoria das balas mágicas popularizou-se a partir de 1920, e fundava-se no conceito de que o processo de comunicação de massas é equivalente ao que se passa numa galeria de tiro. Bastava atingir o alvo para que este caísse. As balas eram irresistíveis, as pessoas estavam totalmente indefesas. Outra expressão escolhida para designar esta corrente de pensamento foi a teoria das agulhas hipodérmicas, pois achava-se que os meios de comunicação eram como agulhas que injectavam estímulos nas veias, de forma a provocar determinadas reacções desejadas.
As ideias fundamentais por detrás desta teoria sugeriam que a sociedade moderna era constituída por «átomos» de indivíduos aglomerados em massas uniformes, que respondiam de forma imediata e directa aos estímulos da comunicação social
”. José Rodrigues dos Santos (2001: 18)
Para as conclusões e receios "proclamados" pela teoria das balas mágicas (ou hipodérmica) contribuíram:
- Meios de Comunicação de Massa (Rádio, Cinema) - receio de influência
- Divulgação de algumas estratégias de propaganda usadas nos conflitos
- PSICOLOGIA BEHAVIORISTA (este modelo apelidado também de estímulo-resposta ficou conhecido pela experiência de Pavlov). De acordo com esta teoria mecanicista, a comunicação é sobretudo um processo de reacção. ( E -> R (Estímulo –> Resposta))

Ideia central: “Cada elemento do público é pessoal e directamente atingido pela mensagem”
(Wright)

A audiência é vista como uma massa amorfa, que responde de maneira imediata e uniforme aos estímulos recebidos. Esta teoria defendia uma relação directa entre a exposição às mensagens e o comportamento. Se uma pessoa era “apanhada” pela propaganda era controlada, manipulada e levada a agir conforme a mensagem veiculada.
O receio acentuou-se com a célebre emissão radiofónica de Orson Welles da obra "Guerra dos Mundos" um romance de ficção científica de Herbert George Wells , que narrava a invasão da Terra por marcianos inteligentes.
Às vinte horas de domingo, 30 de Outubro de 1938, o locutor da COLUMBIA BROADCASTING SYSTEM, de New York, anunciou:
A Columbia Broadcasting System e as suas estações apresentam Orson WELLES e o Mercury Theatre na "Guerra dos Mundos", H. G. WELLS.
Tratava-se, na verdade, do famoso romance, adaptado por Howard KOCH, para uma hora de rádio. Os marcianos invadindo a terra, metidos em cilindros metálicos; depois, a interpretação sonora do extermínio da raça humana pelos monstros. A transmissão durou uma hora, mas, antes que ela findasse, milhares de pessoas, nos Estados Unidos, - por mais extraordinário que pareça ! - rezavam, choravam, fugiam espavoridas ante o avanço dos habitantes de Marte! Outros despediam-se dos parentes, pelo telefone, preveniam os vizinhos do perigo que se aproximava, procuravam notícias nos jornais ou noutras estações de rádio, pediam ambulâncias aos hospitais e automóveis à Polícia.Mais tarde, centenas de pessoas foram ouvidas, num grande inquérito científico.
Depoimentos :
MRS. FERGUSON, doméstica de New Jersey: "...Senti que era qualquer coisa de terrível e fui tornada de pânico... Decidimos sair, levámos mantas...
JOSEPH HENDLEY "...Caímos de joelhos e toda a família rezou...A
ARCHIE BVRBANK "...O locutor foi asfixiado, por acção dos gases: a estação calou-se. Procurámos sintonizar outra emissora, mas em vão... Enchemos o depósito do carro e preparámo-nos para fugir, o mais depressa possível..."
MRS. JOSLIN "...Quando o locutor disse - Abandonem a cidade! - ...agarrei o meu filho nos braços, e precipitei-me, pela escada abaixo..."
Textos de apoio:
Artigo de Opinião Eduardo Cintra Torres Aterrorizando as massas (Jornal Público)

quarta-feira, outubro 18, 2006

PREC - pensa, rosna, estica e corta

É apresentado a 27 de Outubro, no Espaço Maus Hábitos, no Porto, o primeiro número do Jornal PREC, Pensa, Rosna, Estica e Corta.

FILME: DIÁRIOS DA BÓSNIA

A 19 de Outubro, quinta-feira, na Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira

Em Julho de 1996 apanhei um avião da Força Aérea para Sarajevo. O cerco à cidade tinha terminado há 3 meses. Pessoas que não conheci tornaram-se memórias que não me deixaram. Dois anos depois voltei a Sarajevo. Tinha que voltar. Tinha que encontrar pessoas de carne e osso. Este filme é o cruzamento de uma viagem pessoal com o trágico curso da história. Uma viagem que fiz durante 10 anos. Pela guerra, pelas imagens, pela memória.

Joaquim Sapinho (realizador)

terça-feira, outubro 17, 2006

AS ESCOLHAS...

Lista livros escolhidos para a recensão crítica:

X ESCOLHIDO *RAMONET, IGNACIO (1999), A Tirania da Comunicação, Campo dos Media, Campo das Letras, 139 págs. (ANA LÚCIA)
X ESCOLHIDO *RAMONET, IGNACIO (2000), Propagandas Silenciosas..., Campo dos Media, Campo das Letras, 232 págs. (RICARDO OLIVEIRA)
XESCOLHIDO *RAMONET, IGNACIO (2003), Guerras do séc. XXI, Campo dos Media, Campo das Letras, 176 págs. (SIMÃO)
XESCOLHIDO *RAMONET, IGNACIO (2005), Iraque - História de um desastre, Campo das Letras, 136 págs. (PEDRO GAMA)
X ESCOLHIDO Florence AUBENAS Miguel BENASAYAG
A Fabricação da Informação. Os jornalistas e a ideologia da comunicação - (FABIANA SILVA)

*Jenny KITZINGER/Jacquie REILLY
Ascensão e queda de notícias de risco (*)Jenny Kitzinger e Jacquie Reilly
X ESCOLHIDO E. Cintra TORRES Reality shows: ritos de passagem da sociedade do espectáculo (ANA AGUIAR)
*PEREIRA, GONÇALO - A QUERCUS NAS NOTÍCIAS
X ESCOLHIDO SILVA, ELSA COSTA E - Os donos da notícia. Concentração da propriedade dos media em Portugal (MÁRCIA OLIVEIRA)
X ESCOLHIDO *HALIMI , SERGE - Os novos cães de guarda Ano publicação: 1998 Editora: Celta Editora Nº. Páginas: 117 págs ( MARTA LOPES)
*GILLES LIPOVETSKY - O Império do Efémero
X ESCOLHIDO "A VERDADE CONFISCADA", JOAQUIM LETRIA *(BÁRBARA
PEREIRA)
SANTOS, JOSE RODRIGUES
*Crónicas de Guerra - Vol. II - De Saigão a Bagdade - Editor: Gradiva PublicaçõesAno de Edição: 2002N.º de Páginas: 592
*Crónicas de Guerra - Vol. I da Crimeia a Dachau

XESCOLHIDO*A VERDADE DA GUERRA Editor: Gradiva Publicações Ano de Edição: 2002N.º de Páginas: 260 (MARCO BRANDÃO)

sexta-feira, outubro 13, 2006

CINEMA: filmes no MN

SEXTA 13 e SÁBADO 14 Outubro

Ciclo de Cinema LGBT - 2ª parte, integrado no 3º Diversidade na Cidade, organizado pela Ex-Aequo Aveiro


SEXTA 13 . auditório do Mercado Negro . 22h

All Over Me (EUA, 1997) (L)
de Alex Sichel

Claude, uma adolescente rabugenta, sente-se aprisionada por duas mulheres:
a sua mãe solteira, com quem partilha um pequeno apartamento, e a sua melhor
amiga Ellen, com quem partilha o sonho de fundarem uma banda de rock. Mas
isso foi antes de Ellen arranjar um namorado ruim, suspeito de um assassínio.
Claude apercebe-se lentamente que está apaixonada por Ellen, e certa noite
decide ultrapassar as suas inibições.
(entrada livre . legendas em português)



SÁBADO 14 . auditório do Mercado Negro . 18h
Pourquoi Pas Moi? (França/ Espanha/ Suíça, 1999) (GL)
de Stéphane Giusti
O filme apresenta-nos um grupo de jovens amigos homossexuais: Camille, Eva,
Ariane e Nico. Camille e sua mãe, Josepha, decidem organizar um jantar para
que os pais dos restantes fiquem a saber da orientação sexual dos seus filhos.
Esse fim de semana especial vai incendiar paixões , mas não exactamente como
cada um tinha previsto. Uma comédia romântica com personagens insólitas,
entusiasmantes, em suma, inesquecíveis.

(entrada livre . legendas em português)

quarta-feira, outubro 11, 2006

Nos escombros da Guerra dos Balcãs...GRBAVICA

A 15 de Outubro, domingo, ante-estreia nacional na Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira (CINECLUBE).
GRBAVICA é uma história sobre a vida em Sarajevo na actualidade...

Uma mãe solteira, Esma, quer que a filha, Sara, participe numa viagem da escola.
Para ter um desconto é necessário fazer prova de que o pai é um mártir da guerra. Mas Esma prefere encontrar uma forma de pagar o bilhete na totalidade....
O filme revela as dificuldades em retomar uma vida normal após as dolorosas marcas de um conflito que dura muito mais do que se possa imaginar...

Filha da Guerra
de Jasmila Zbanic
com Mirjana Karanovic, Luna Mijovic, Leon Lucev, Kenan Catic, Jasna Beri, Dejan Acimovic, Bogdan Diklic e Emir Hadzihafisbegovic
(Áustria 2006)

sexta-feira, outubro 06, 2006

LIVRO: Florence AUBENAS | Miguel BENASAYAG



A Fabricação da Informação. Os jornalistas e a ideologia da comunicação (*)
Editora: Campo das Letras
Colecção: Campo dos Media
Ano Publicação: 2002
Nº Páginas:112

Este livro é uma abordagem crítica à maneira como os Meios de Comunicação Social concebem e tratam a informação. “Uma informação construída em função de grelhas prévias, de modo a poder ser encaixada num argumento concebido de antemão”, escreve-se na contracapa.
"Durante muito tempo acreditou-se que uma coisa era verdadeira "porque veio escrita nos jornais". Hoje esta crença popular inverteu-se. De palavras sagradas as notícias divulgadas pela imprensa tornaram-se, aos olhos dos que a lêem, muito provavelmente falsas ou, em qualquer dos casos, suspeitas", acrescenta-se na Introdução.


(*) Proposta para a recensão crítica.

LIVROS: Jenny KITZINGER/Jacquie REILLY e E. Cintra TORRES

Ascensão e queda de notícias de risco (*)
Jenny Kitzinger e Jacquie Reilly
Reality shows: ritos de passagem da sociedade do espectáculo (*)
Eduardo Cintra Torres
Editora: Cadernos Minerva. Minerva
Ano Publicação: 2002

“Ascensão e queda de notícias de risco”, de Jenny Kitzinger e Jacquie Reilly traduzido e prefaciado por Cristina Ponte, merece, desde logo, uma referência por se tratar de uma primeira abordagem académica vinda a lume no nosso país, sobre uma actividade jornalística relativamente recente que vai recolhendo cada vez mais a atenção da opinião pública: as notícias sobre o risco relacionado com a ciência e a tecnologia (…) O segundo título, “Reality shows: ritos de passagem da sociedade do espectáculo”, reúne onze artigos publicados pelo crítico de televisão Eduardo Cintra Torres no jornal Público. Além das crónicas agora reunidas em volume, inclui um inédito onde se analisam os reality shows como rituais de passagem em que os iniciados aprendem o modo de ser próprio da sociedade do espectáculo: o "ser-se conhecido". Através destes rituais, onde pontuam sacerdotes, confessionários e expulsos, ascende-se à aristocracia da sociedade mediática contemporânea”.
(Fonte: Recensão crítica de João Carlos Correia, professor na Universidade da Beira Interior, com inúmeros textos publicados sobre comunicação).


(*) Propostas para a recensão crítica.

LIVRO: GONÇALO PEREIRA



A QUERCUS NAS NOTÍCIAS (*)
Editora: Porto Editora
Ano Publicação: 2006
Nº Páginas: 160

“A Quercus nas Notícias - Consolidação de uma Fonte Não Oficial nas Notícias de Ambiente", é um livro que resulta de uma dissertação de mestrado, no caso a desenvolvida pelo também jornalista Gonçalo Pereira, na UCP. O relacionamento de uma entidade não governamental com os media, as nem sempre pacíficas ligações das fontes com os jornalistas e o Poder, bem como os processos de selecção do que é notícia, em especial, numa área tão melindrosa como difícil de abordar, produziram um notável trabalho de reflexão sobre uma matéria mais do que actual no campo da comunicação. A análise incidiu na evolução mediática da Quercus de 1987 a 2003.

Artigo de Gonçalo Pereira
Referência de Rogério Santos (Indústrias Culturais)

(*) Sugestão para a recensão crítica.

quinta-feira, outubro 05, 2006

LIVRO: ELSA COSTA e SILVA


Os donos da notícia. Concentração da propriedade dos media em Portugal (*)
Editora: Porto Editora
Ano Publicação: 2004
Nº Páginas: 176

O livro é o resultado da tese de mestrado (defendida em 2002, na Universidade do Minho) da jornalista do Diário de Notícias Elsa Costa e Silva. O estudo baseado numa análise do fenómeno da concentração da propriedade dos órgãos de comunicação social no nosso país revela os perigos inerentes ao facto de apenas alguns grupos económicos dominarem o universo da comunicação. Poder, dinheiro, audiências, interesses, censura, libertinagem são algumas das situações sobre as quais devemos reflectir em “ Os Donos da Notícia - Concentração da Propriedade dos Media em Portugal”.


Opinião de Rogério Santos (Industrias Culturais)

(*) Sugestão de livro para a recensão crítica

LIVRO: SERGE HALIMI

Os novos cães de guarda (*)
Ano publicação: 1998
Editora: Celta Editora
Nº. Páginas: 117 págs

“Este livro baseia-se no registo metódico de informações altamente perecíveis e voláteis: radiofónicas ou televisivas, as palavras voam, e as da Imprensa escrita não são, por definição, menos efémeras. Este trabalho de arquivista tem por efeito minar um dos suportes invisíveis da prática jornalística, a amnésia (…) responsável por inconsequências e incoerências, quando não por cambalhotas e reviravoltas” é explicado logo no prefácio de um livro que desmistifica a validade e veracidade de algumas notícias e explica porque é que alguns acontecimentos são notícia e outros não. O papel de jornalistas que “forçam” determinadas informações a vir ao de cima é escalpelizado por Halimi, jornalista do Le Monde Diplomatique.

Entrevista com HALIMI
Artigo de Opinião

(*) Sugestão de livro para a recensão crítica

LIVRO: GILLES LIPOVETSKY

O Império do Efémero (*)
Editor: Dom Quixote
Ano de publicação: 1989O livro aborda a questão da moda numa sociedade de consumo exarcebado, a par com o surgimento dos novos valores da pós-modernidade como o hiper-individualismo, uma dimensão característica da era da produção de massa. No entender de Lipovetsky, o crescimento do fenómeno da moda na sociedade contemporânea liga-se à sociedade pós-moderna “na medida em que foi a moda que nos arrancou da sociedade disciplinar, autoritária, convencional, em proveito de uma sociedade hiperindividualista, na qual os indivíduos vivem em self-service, onde podem escolher seus modos de vida e não mais submeter-se a coações, no trabalho em particular, ou na falta de trabalho, com a questão do desemprego”.
Passados tantos anos desde a sua publicação, o livro mantém-se actual em muitos aspectos.

Entrevista a Lipovestky(1)
Entrevista a Lipovestky (2)


(*) Sugestão de livro para a recensão crítica

terça-feira, outubro 03, 2006

LIVROS: JOSÉ RODRIGUES DOS SANTOS (2)

Crónicas de Guerra - Vol. II - De Saigão a Bagdade (*)
Editor: Gradiva Publicações
Ano de Edição: 2002
N.º de Páginas: 592

De Saigão a Bagdad, das montanhas geladas de Cabul às ruas ensanguentadas de Kigali, das selvas húmidas de Khe Sanh às areias quentes de Dahran, dos destroços fumegantes de Grozny às avenidas desertas de Sarajevo, o segundo volume desta obra relata as atribuladas aventuras dos repórteres portugueses nos grandes campos de batalha do nosso tempo. Artur Albarran ao lado das forças multinacionais na ofensiva para reconquistar o Kuwait, Barata-Feyo apanhado numa emboscada com os Mudjahedin no Afeganistão, Carlos Fino debaixo de fogo cerrado dos russos na Tchetchénia. A história do Século XX, testemunhada e narrada por jornalistas portugueses e reproduzida em épicas e inesquecíveis Crónicas de Guerra.
Depois do êxito do primeiro volume, José Rodrigues dos Santos regressa com Crónicas de Guerra – De Saigão a Bagdad, para narrar as emocionantes aventuras dos correspondentes de guerra portugueses nas selvas do Vietname, nos desertos do Médio Oriente, nas montanhas do Afeganistão, na região do Golfo Pérsico, nas cidades da Bósnia, nos destroços da Tchetchénia, no genocídio do Ruanda. Uma aventura narrada por José Rodrigues dos Santos, num estilo vivo, rigoroso e empolgante.

Crónicas de Guerra - Vol. I da Crimeia a Dachau (*)
Editor: Gradiva Publicações
Ano de Edição: 2003
N.º de Páginas: 464

É uma estranha tribo. Vão para onde os outros fogem, digladiam-se por um exclusivo, conhecem o rosto da morte. Os correspondentes de guerra gostam de se considerarem uma classe à parte, e José Rodrigues dos Santos conta aqui as sua emocionantes histórias, num estilo vivo e palpitante.Da Crimeia a Dachau, das trincheiras de Neuve Chaoelle ao massacre de Badajoz, do desastre de La Lys aos fuzilamentos de Mérida, da tomada de Toledo aos bombardeamentos da Blitz, este livro este livro relata as atribuladas dos repórteres portugueses nos grandes campos de batalha. Almada Negreiros debaixo de fogo cerrado nas trincheiras inglesas da Primeira Guerra Mundial, Artur Portela a assistir a execuções sumárias na Guerra Civil de Espanha, Fernando Pessa a relatar um combate aéreo na Segunda Guerra Mundial. É a história do século XX, testemunhada por jornalistas portugueses e reproduzida em épicas e inesquecíveis Crónicas de Guerra.
(Fonte: Webboom)

(*) Sugestões para a recensão crítica

LIVROS: JOSÉ RODRIGUES DOS SANTOS (1)

LIVRO: A VERDADE DA GUERRA (*)
Editor: Gradiva Publicações
Ano de Edição: 2002
N.º de Páginas: 260

Imagine um soldado que começa a disparar para benefício das câmaras de televisão.
Imagine um político que decide parar uma guerra por causa de um repórter incómodo.
Tudo isso já aconteceu.
A guerra desenrola-se nos campos de batalha, mas também nas páginas dos jornais e nas palavras e imagens dos noticiários. Até que ponto a imprensa, a rádio e a televisão reproduzem fielmente o que realmente se passou, e onde começa a distorção? Em que podemos confiar? Onde está afinal a verdade da guerra? Após o êxito dos dois volumes de Crónicas de Guerra, José Rodrigues dos Santos fecha a trilogia com um livro surpreendente que ameaça abalar a nossa confiança nos noticiários e revelar o rosto escondido das reportagens de guerra, questionando, afinal, a nossa relação com o mundo e o nosso conhecimento da História. A Verdade da Guerra declara guerra pela verdade. (Fonte: Webboom)

(*) - sugestão para a recensão crítica

FILME: LISBOETAS


Filme em exibição a 5 de Outubro, na Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira, 21h45.

LISBOETAS é um filme documental sobre um pedaço da história e cultura do nosso país. Da história dos aventureiros que partiram à procura de uma vida melhor até às faces de diferentes países que também procuram uma vida melhor, agora, em Portugal. Como está este país de emigrantes-imigrantes?

Ao longo do século XX, Portugal foi uma terra de emigrantes. O país tinha tão pouco para oferecer que quase metade da população activa partiu à procura de melhores salários. A economia nacional sobreviveu durante décadas graças aos envios de dinheiro destes emigrantes. Alguns anos após a integração de Portugal na Comunidade Europeia, a situação inverteu-se...Cerca de um milhão de imigrantes chegaram a Lisboa em pouco mais de uma década. Uma parte importante destes imigrantes veio da Europa de Leste e tem um nível de instrução mais elevado do que a média portuguesa. Mas também brasileiros, chineses, indianos, africanos...Será que vão mudar Lisboa e Portugal (que ainda é um dos países mais pobres da Europa)? Será que se vão deixar resignar pela resignada indolência do país? (FONTE: 7arte.net)

sexta-feira, setembro 29, 2006

LIVROS: IGNACIO RAMONET

Um dos mais importantes escritores espanhóis na área da comunicação, Ignacio Ramonet, publicou entre outros, os seguintes livros(*):

RAMONET, IGNACIO (1999), A Tirania da Comunicação, Campo dos Media, Campo das Letras, 139 págs.

O livro aborda as censuras e manipulações camufladas em tempos de «farta» democracia. “Novos e sedutores «ópios do povo» propõem uma espécie de melhor dos mundos, distraem os cidadãos e desviam-nos da actividade cívica. Nesta nova época da alienação, no momento da world culture (cultura global) e das mensagens planetárias, as tecnologias da comunicação desempenham, mais do que nunca, um papel ideológico fulcral”, sintetiza o texto da contracapa do livro de Ramonet. A cobertura mediática da morte de Diana, o caso Clinton-Lewinsky, as notícias da Guerra do Golfo e o mimetismo dos meios de comunicação social que repetem e exploram temas até à exaustão, são alguns dos temas aflorados pelo comunicólogo espanhol.

RAMONET, IGNACIO (2000), Propagandas Silenciosas: massas, televisão, cinema, Campo dos Media, Campo das Letras, 232 págs.


Tema recorrente da obra de Ramonet, a manipulação mediática volta a ser a personagem central no livro Propagandas Silenciosas. Os perigos escondidos por detrás da informação e do entretenimento, duas situações para as quais hoje em dia não se encontram fronteiras nítidas, são desvendados pelo autor que considera que as imagens veiculadas em “spots publicitários, filmes-catástrofe, séries policiais, comédias, cenas de guerra e violência… deixam vestígios subliminares cuja influência a longo prazo, acaba por determinar profundamente o nosso comportamento. E por reduzir a nossa liberdade”, acrescenta.

RAMONET, IGNACIO (2003), Guerras do Século XXI, Campo dos Media, Campo das Letras, 176 págs.

Em "Guerras do Século XXI", Ignacio Ramonet faz uma análise das principais características geopolíticas do planeta. A editora Campo das Letras resume assim este livro:
"[...] a globalização e o contra-ataque dos cidadãos; os desastres ecológicos, a desflorestação e a escassez de água potável; as novas tecnologias, os avanços da ciência, o genoma humano; os neofascismos e o futuro da direita e da esquerda.Mas aborda também o papel que os Estado Unidos estão a desempenhar no mundo actual, o problema do Médio Oriente, o terrorismo, a nova ameaça do Paquistão, a Argentina, a nova ordem global, a ONU. Dá um destaque especial ao Fórum Social Mundial de Porto Alegre, assembleia que reúne "os excluídos do planeta, os condenados da globalização", e espaço onde se discute, entre outras questões, a taxa Tobin, o fim dos paraísos fiscais, o desenvolvimento sustentado, a educação, o Tribunal Penal Internacional, a emancipação da mulher à escala planetária, a protecção das minorias indígenas – utopias "transformadas em objectivos políticos concretos neste século XXI que agora começa…".No entender de Ignacio Ramonet, "outro mundo é possível".


RAMONET, IGNACIO (2005), Iraque - História de um desastre, Campo das Letras, 136 págs.

Mais uma vez um dos mais conceituados pensadores da actualidade coloca o dedo na ferida ao estado do mundo. Entre muitas outras reflexões este livro levanta as seguintes perguntas:
Como foi tomada a decisão de invadir o Iraque? Como foi concebida a mais ambiciosa operação de propaganda e de intoxicação de todos os tempos?Que personalidades, em redor do presidente dos Estados Unidos, desejavam desde sempre esta "guerra preventiva"? Por que motivo? Pelo petróleo? Quem são os "falcões"? Qual é a ideologia dos neoconservadores? Quais são as ligações entre esta guerra e os atentados do 11 de Setembro? Como é que os meios de informação foram manipulados? Quem fabricou as grandes mentiras que serviram de pretexto à invasão? Porque é que a invasão do Iraque se revelou um desastre? Quem são os resistentes? Os Estados Unidos poderão libertar-se do lamaçal iraquiano?.

(*) - 4 sugestões para a recensão crítica

Comunicações em Linha - segunda edição revista e aumentada

Este blogue surgiu da vontade de apoiar pedagogicamente os alunos da disciplina de Teorias da Comunicação Social, do curso de Marketing e Relações Públicas, do Instituto Superior de Entre Douro e Vouga, Santa Maria da Feira, no ano lectivo 2005/2006. A finalidade foi permitir, através da consulta semanal deste modo de publicação, o acesso a informações pertinentes e de contextualização das matérias leccionadas, bem como proporcionar material de apoio que ajudasse a melhor perceber o universo comunicacional.
No presente ano lectivo, o blogue continuará a dar ênfase às escolas e autores do pensamento comunicacional contemporâneo, como forma de introduzir o aluno nos meandros de uma área vasta que será a médio prazo o seu universo profissional.
Como complemento serão aconselhadas leituras e disponibilizadas informações actuais sobre os fenómenos comunicacionais que se julgarem pertinentes.
Para que este modelo não se esgote apenas na circulação de comunicação descendente, os próprios alunos terão oportunidade de publicar artigos sobre as matérias leccionadas.
Sempre que possível serão sugeridas actividades culturais, publicados resumos de filmes e apresentadas boas oportunidades de leitura.
Também se aceitam recensões críticas de livros e opiniões sobre filmes de cinema, programas de televisão ou opiniões sobre o estado da nação e do mundo e que de algum modo se relacionem com o mundo das comunic@ções em linha.

O que quer dizer...

Comunicar quer dizer pôr em comum; tornar conhecido; fazer saber; participar; ligar; pôr em contacto; transmitir; conviver com; ter correspondência; ter passagem comum.

O termo comunicação não tem sido definido de modo consensual por todos os autores. Os próprios modelos de comunicação propostos ao longo dos anos (desde Shannon e Weaver, passando por Lasswell, Schramm, Gerbner, DeFleur ou Maletzke) foram acrescentando pormenores e conceitos ao processo comunicativo.

Mas e o que quer dizer Meios de Comunicação, Mass Media ou Sociedade de Informação?
De que falamos quando dizemos Comunicação Social? Diz-se Media ou Medium? O que são self-media? E, afinal, para que servem as teorias da comunicação? Há alguma estrutura que regule a comunicação social?

Estes são alguns dos pontos a discutir nas próximas aulas de TCS...

Nota:
A Associação para o Desenvolvimento da Sociedade de Informação possui um glossário com algumas definições (e/ou orientações) para alguns dos termos referidos na disciplina.

Em HARTLEY, John (2004), Comunicação, Estudos Culturais e Media. Conceitos-chave. Lisboa: Quimera. 1ª edição, podem ser encontradas definições para estes e muitos outros termos.

quarta-feira, setembro 13, 2006

EM ACTUALIZAÇÃO...

"Look the book"






















(Filme de 4 de Outubro de 2006 - na Associação Cultural MERCADO NEGRO, em Aveiro.




DE 13 SETEMBRO A 4 OUTUBRO - entrada livre

Ciclo de Cinema "Look The Book", na Associação Cultural MERCADO NEGRO, Aveiro

Quarta 13 Setembro

"1984", a partir do livro de George Orwell

Quarta 20 Setembro

"Hiroshima, Mon Amour", de Alain Resnais

a partir do livro de Marguerite Duras


Quarta 27 Setembro

"Ana Karennina", de Clarence Brown

a partir do livro de Leon Tolstoi

Quarta 4 Outubro

"Fahrenheit 451", de François Truffaut

a partir do livro de Ray Bradbury


Associação Cultural Mercado Negro
R. João Mendonça, 17, 3800-200 Aveiro
http://mercadonegro-aveiro.blogspot.com/
mercadonegro.correio@gmail.com

terça-feira, janeiro 03, 2006

PSEUDO-EVENTOS

“A produção de eventos constitui um dos principais instrumentos da acção política. Boorstin chama-lhes “">pseudo-eventos” e define-os como possuindo as seguintes características: não são espontâneos; surgem porque foram planeados; são criados para serem cobertos pelos media; o seu sucesso mede-se pela amplitude da sua cobertura; a sua relação com a realidade subjacente à situação é ambígua; geralmente, funcionam como uma auto promoção.
Os políticos são os maiores criadores de eventos. Nos EUA, Roosevelt, com a colaboração de um amigável conjunto de jornalistas que integravam o press corps da Casa Branca, tornou-se um fazedor de pseudo-eventos e de sound-bites que enchiam as primeiras páginas dos jornais, transformando as conferências de imprensa, habitualmente rituais sem interesse, na maior instituição nacional fazedora de notícias, através de um processo informal de conversa e troca de ideias. Sabendo como os jornalistas vivem ávidos de notícias, Roosevelt ajudava-os a construí-las, orientando-as segundo os seus próprios interesses. Boorstin afirma que nos tempos actuais é possível construir uma carreira política inteiramente com pseudo-eventos. E aponta o caso de McCarthy que inventou a conferência de imprensa da manhã para anunciar a conferência de imprensa da tarde. Os repórteres acorriam e preparavam os títulos para os jornais do dia seguinte com o anúncio das revelações que McCarthy dizia que faria à tarde, a uma hora que não permitia divulgação no dia seguinte. Os jornais eram, assim, alimentados com anúncios que muitas vezes falhavam. Sem a ajuda dos jornalistas, os políticos não poderiam criar os eventos que lhes trazem poder e notoriedade. Os jornalistas são, nesta matéria, aliados dos políticos. As instituições políticas são grandes produtoras de pseudo-eventos. Uma grande percentagem das notícias publicadas na imprensa escrita inclui informação baseada em comunicados, estudos ou relatórios. Os próprios jornalistas consideram que a imprensa concede demasiada atenção a eventos, com prejuízo da investigação própria. Contudo, fiéis ao princípio de que a primeira missão de um jornal é produzir diariamente notícias de actualidade, dedicam-se, sobretudo, à descoberta de novas "estórias". As democracias modernas multiplicaram os pseudo-eventos e desenvolveram profissões que os criam e ajudam a interpretá-los. A desproporção entre o que os cidadãos necessitam de saber e o que podem saber é cada vez maior. Essa desproporção cresce com o aumento da capacidade de esconder e orientar a informação por parte do poder. Os jornalistas necessitam de corresponder a esse crescimento e assim seleccionam e procuram novos temas para informar. O jornalista é ele próprio um gerador de notícias. Ao insistir junto dos assessores e dos políticos para obter novos ângulos e novas abordagens que lhe permitam apresentar novas "estórias", está a criar pseudo-eventos. É vulgar os jornalistas solicitarem comentários por parte dos políticos a situações hipotéticas, gerando notícias completamente fictícias do ponto de vista da sua espontaneidade. É o que se chama “fazer render as notícias”. A pressão do tempo e a necessidade de conseguir uma corrente contínua de notícias leva os jornalistas, sobretudo os correspondentes ou os que são destacados junto de instituições, ao uso de entrevistas e outras técnicas de criação de pseudo-eventos, algumas muito agressivas e engenhosas. As novas formas de criação de pseudo-eventos, especialmente no campo político, baralham os papéis de políticos e jornalistas. O político, de algum modo compõe a "estória" (por exemplo ao fazer uma conferência de imprensa). O jornalista, por seu turno, pressionando o político para fornecer comentários ou entrevistas, é um criador de notícias. Esta situação torna difícil aos cidadãos perceberem o que é, de facto, a realidade quando os próprios protagonistas também não sabem. Os jornalistas procuram constantemente novas “estórias” e os líderes políticos são a sua fonte principal. Para saberem o que eles pensam e fazem, cultivam relações com os políticos. Por seu turno, os políticos necessitam dos media para fazerem chegar ao público as suas mensagens. Por isso, cultivam igualmente relações com os jornalistas: promovem briefings, garantem-lhes acesso a locais e a eventos oficiais e, por vezes, fornecem-lhes espaço de trabalho. A produção de notícias é, assim, um processo de negociação e de renegociação constante, através do qual os reporteres identificam o tipo de pessoas que servirão como boas fontes de informação sobre os acontecimentos produzidos. Gaye Tuchman vê nos procedimentos profissionais que levam os jornalistas a solicitar reacções e comentários aos acontecimentos por parte de figuras institucionais, o privilegiar de líderes legitimados, deixando ao “homem da rua” o papel simbólico de representação de outros e não de representante de outros. Para a maioria dos jornalistas que cobrem a política o conceito de notícia abrange actividades concretas como uma votação, uma decisão de um órgão de soberania, um discurso presidencial ou ministerial que ocorra no espaço de 24 horas. A grande maioria das notícias incide sobre eventos que aconteceram no dia anterior, no próprio dia, ou que é suposto acontecerem no dia seguinte. Ora, a concentração do jornalismo nos eventos é propensa a uma eficiente intervenção dos staffs. Um bom exemplo do entrosamento entre sujeito e objecto, entre história e historiador, entre actor e repórter, é a chamada “fuga” de informação. A "fuga" tornou-se uma instituição, sendo um dos processos mais usados na transmissão de informações por parte das fontes oficiais. Boorstin define a “fuga” como um meio, através do qual uma fonte oficial com um propósito bem definido, fornece uma informação, faz uma pergunta ou uma sugestão. Mais que um anúncio directo, a "fuga" presta-se muito melhor a esconder determinados objectivos A "fuga" é o pseudo-evento por excelência. Na sua origem e crescimento, a "fuga" ilustra outro dos axiomas do mundo dos pseudo-eventos: um pseudo-evento produz novos pseudo-eventos. A "fuga" começou como uma prática ocasional de uma fonte oficial transmitir informação confidencial a alguns jornalistas. Hoje, tornou-se uma maneira institucional de transmitir informação. A sua ambiguidade e o ambiente de confidência e intriga em que se processa criam um clima de confiança entre jornalistas e fontes. As regras respeitantes ao “off record” e à atribuição das fontes são especialmente importantes no caso das “fugas” de informação. A chamada informação de background e os encontros off-record tornaram-se, por outro lado, uma espécie de balões de ensaio ou mesmo instrumentos diplomáticos. São, muitas vezes, a base de desmentidos oficiais e de especulação para colunistas e comentadores além de temas de entrevistas e discussões públicas.A técnica da conversa de background em que os políticos fornecem enquadramentos dos factos aos jornalistas, é um sistema colaboracionista que produz a impressão de uma franqueza e espontaneidade naturais. É uma maneira de fornecer notícias ou matérias para artigos de opinião, geralmente favoráveis aos políticos, mas que interessam aos jornalistas dado satisfazerem a sua avidez de informação e lhes proporcionarem relações pessoais com o poder. Esta prática tornou-se hoje corrente por parte de políticos e jornalistas que vêem nela uma fonte de inspiração para os seus textos.Boorstin refere que em Washington um bom teste para avaliar as aptidões de um repórter reside na capacidade que ele possuir de penetrar nessas zonas recônditas e sombrias da informação, de conseguir uma relação com fontes bem colocadas e desenvolver um vocabulário específico relativamente a este tipo de situações. Esses repórteres vivem numa penumbra entre factos e fantasias. Ajudam a criar obscuridade, quando era suposto esclarecerem. Estas aptidões são também característica das fontes importantes: “Saber negar a verdade sem realmente mentir”. A explicação para esta conjugação de interesses entre jornalistas e políticos, aparentemente contraditória, reside, em parte, na própria natureza do trabalho jornalístico. Como escreveu Thomas Patterson a política não é o que mais interessa aos jornalistas. O mais importante para um jornalista é ter uma “estória” para contar. (...) Num debate organizado pela Columbia Journalism Revue , a propósito do envolvimento militante dos media relativamente ao caso Clinton/Lewinsky, a correspondente da Casa Branca da Rádio Pública Nacional dos EUA afirmou que a maioria dos jornalistas que surgiram a falar do caso faziam-no como comentadores e, portanto, emitiam apreciações pessoais. Não agiam como repórters baseados em fontes credíveis ou em investigação própria.. O problema, segundo um dos participantes nesse debate, está no facto de o público nem sempre perceber a diferença entre comentadores e repórteres, levando-o a avaliar os media e o jornalismo como um todo que realmente não são”.

Excerto de um texto de Estrela Serrano intitulado JORNALISMO E ELITES DO PODER.