Uma das prioridades no universo da comunicação passa pela necessidade de se ser notícia. Seja nos meios políticos, desportivos, culturais, económicos, científicos e até religiosos há uma procura incessante pela conquista de um espaço na esfera mediática. De preferência a conquista desse espaço espera-se pela divulgação de uma imagem favorável.
Na verdade, a intenção de fazer parte do espaço mediático, - de uma forma positiva -, é um dos esforços do trabalho dos profissionais de comunicação e de Relações Públicas. A ideia é transmitir uma boa imagem, conquistar notoriedade, torna-se de certo modo visível junto da opinião pública, cada vez mais “orientada” pelos Meios de Comunicação Social nos seus modos de pensar, e sobre o que pensar (agenda-setting), dos seus modos agir e até nos comportamentos, hábitos e atitudes.
Daniel Boorstin criou a propósito o termo pseudo-evento, um acontecimento não espontâneo, criado apenas e só para ocupar um espaço no universo mediático.
De facto, os pseudo-eventos são “acontecimentos” criados com o objectivo de serem noticiados, isto é, se não fossem organizados nunca seriam notícia.
Boorstin também se referiu às fugas de informação. Tal como lembra Serrano: “A "fuga" tornou-se uma instituição, sendo um dos processos mais usados na transmissão de informações por parte das fontes oficiais. Boorstin define a “fuga” como um meio, através do qual uma fonte oficial com um propósito bem definido, fornece uma informação, faz uma pergunta ou uma sugestão. Mais que um anúncio directo, a "fuga" presta-se muito melhor a esconder determinados objectivos. A "fuga" é o pseudo-evento por excelência. Na sua origem e crescimento, a "fuga" ilustra outro dos axiomas do mundo dos pseudo-eventos: um pseudo-evento produz novos pseudo-eventos. A "fuga" começou como uma prática ocasional de uma fonte oficial transmitir informação confidencial a alguns jornalistas. Hoje, tornou-se uma maneira institucional de transmitir informação. A sua ambiguidade e o ambiente de confidência e intriga em que se processa criam um clima de confiança entre jornalistas e fontes. As regras respeitantes ao “off record” e à atribuição das fontes são especialmente importantes no caso das “fugas” de informação”.
Os bastidores
A chamada informação de background e os encontros off-record (informação partilhada entre intervenientes e jornalistas sem que os primeiros assumam as declarações e os segundos revelem a identidade dos primeiros) têm sido formas habituais de se publicarem notícias.
À posteriori algumas destas declarações são desmentidas.
Características de um pseudo-evento:
- Não é espontâneo
- é planeado e produzido com antecedência.
- é produzido para ser objecto de cobertura mediática, para adquirir visibilidade.
Para Estrela Serrano:
"A conferência de imprensa de Fátima Felgueiras, no passado dia 11, transmitida em directo na abertura dos principais noticiários dos três canais de televisão, constitui um pseudo-evento, no sentido em que o define Daniel Boorstin – acontecimentos ‘artificiais’, não espontâneos, criados para serem cobertos pelos media e cujo sucesso depende da amplitude da sua cobertura. Correspondem à procura crescente de notícias que caracteriza as democracias contemporâneas”.
“Os políticos e os jornalistas são os maiores criadores de pseudo-eventos. Os primeiros, porque precisam de ser notícia, na medida em que é essencialmente através dos media que transmitem aos cidadãos as suas propostas e as suas ideias, e os segundos porque precisam de satisfazer as expectativas dos seus públicos em matéria de informação. Para corresponderem a essas expectativas, e não existindo acontecimentos ‘naturais’ em número suficiente para ‘alimentar’ a procura de notícias, os media criam pseudo-eventos. Como refere Boorstin, o ‘repórter de sucesso’ é aquele que é capaz de encontrar uma história mesmo que não tenha acontecido nada de relevante. E, se não consegue encontrá-la, pode sempre questionar uma figura pública para obter uma declaração ‘interessante’. Pode, também, descobrir um surpreendente ‘interesse público’ num qualquer evento vulgar, através da técnica ‘a notícia por detrás da notícia’”.
LEITURAS IMPORTANTES:
SERRANO, ESTRELA
"O relato antecipado", , Diário de Notícias, Lisboa, 24/6/01
"Jornalismo e Elites do Poder", Ciberlegenda, nº 12, 2003
TORRES, EDUARDO CINTRA
"A feliz prisioneira", Público
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