A Escola Canadiana
"Foi na década de cinquenta que alguns pesquisadores canadianos começaram a notar que era preciso estudar também os efeitos dos meios de comunicação enquanto tecnologia e não apenas os seus efeitos enquanto difusores de mensagens. Numa metáfora simples, o comboio em si terá sido mais importante para modificar as sociedades e a civilização do que as mercadorias que transportava, embora sem excluir que algumas dessas mercadorias tenham sido igualmente importantes nessas transformações. Porém, os teóricos da Escola Canadiana, particularmente McLuhan, foram mais longe, tendo salientado que a influência dos meios de comunicação sobre a sociedade e a civilização era globalmente positiva.
Innis (1950; 1951) destacou a ideia de que a aparição de novos meios de comunicação trazia consigo alterações na noção de tempo e de espaço, pois os meios de comunicação ou privilegiam o tempo ou o espaço. Por exemplo, as inscrições em pedra visam a sua durabilidade temporal, mas dificilmente vencem o espaço, porque são difíceis de transportar; inversamente, a comunicação electrónica é quase instantânea, mas também mais ou menos efémera. A comunicação impressa sobre papel estaria no meio destes dois pólos.
Para Innis, a utilização preferencial de um determinado meio de comunicação gera uma organização diferente da sociedade - a comunicação era não apenas o motor do desenvolvimento económico como também o motor da própria história. A título exemplificativo, a aparição do papel e o surgimento da tipografia gutemberguiana teriam conduzido ao reforço ou aparecimento de identidades nacionais e até ao nacionalismo, já que a imprensa (mais) rapidamente informava as pessoas do que acontecia num país e a burocracia possibilitava não só a chegada das mesmas ordens e instruções a todo o território como também a partilha de direitos e deveres.
O autor deixou também a noção de que a oralidade, implicando um contacto interpessoal que, apelando a diversos sentidos, era intenso, favorecia a integração em pequenas comunidades, a criação de consensos, a memória histórica pessoal e as formas tradicionais de poder. Deu como exemplo as primeiras culturas humanas. Pelo contrário, a escrita teria imposto o domínio de um único sentido, a visão, o que teria trazido a diminuição da intensidade da vivência humana e permitido a monopolização do saber. Para Innis, a tipografia, devido à repetição uniforme dos mesmos conteúdos, conduziu à massificação. Porém, a televisão e a rádio estariam a marcar um regresso à oralidade, condição imprescindível para, segundo ele, se recriarem as vias da participação democrática e dar nova intensidade às mundivivências.
McLuhan foi o herdeiro por excelência das concepções de Innis e o expoente da Escola Canadiana, talvez mais devido ao aproveitamento que os meios audiovisuais fizeram da sua pessoa do que à originalidade das suas ideias.
McLuhan (1962; 1964) segmentou a história da humanidade em várias etapas configuradas pelo predomínio de um determinado meio de comunicação. A primeira teria sido marcada pela cultura oral e pelo tribalismo dela decorrente. O aparecimento da escrita teria transformado as sociedades, criando condições para o aparecimento das civilizações e das primeiras entidades territoriais. Mas também teria tirado o homem do “paraíso tribal”. A seguir surge a tipografia, que teria conduzido à massificação e ao aparecimento ou ao reforço das identidades nacionais. A esta etapa McLuhan deu o nome de Galáxia Gutemberg, uma denominação que perdurou. Finalmente, a comunicação electrónica global teria permitido a aparição da Galáxia Marconi, marcada pelo regresso à comunicação oral, susceptível de integrar a humanidade numa espécie de “tribo planetária” que viveria num mundo transformado em “aldeia global” (...).
SOUSA, Jorge Pedro "As notícias e os seus efeitos"
McLuhan, M.
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