quinta-feira, março 12, 2009

Para pensar: porque lemos menos jornais...

«A salutar procura da diferença»

Qual é a responsabilidade dos editores de jornais na crise da imprensa? A coluna desta semana do prof. Nobre-Correia abre alguns caminhos para a resposta.
A salutar procura da diferença

Num mar de semelhanças, uma réstia de prazer e de inteligência…

Que se assiste há muito a uma erosão do “leitorado” da imprensa, e sobretudo dos diários, é uma evidência. E é notório que esta erosão se acentuou nestes últimos tempos. Para além de outras razões, duas são regularmente avançadas pelos leitores para explicar o seu afastamento dos jornais e mais particularmente dos diários : globalmente, dizem todos a mesma coisa e são cada vez mais superficiais, incapazes de aprofundar o que a rádio e a televisão já disseram.

É verdade que, quando se percorrem os diários generalistas, tem-se muitas vezes a sensação que a “agenda” que preside à concepção editorial de cada um deles é bastante semelhante. Que são os mesmos temas que constituem boa parte dos “menus” propostos por uns e por outros. E que a tendência dominante é propor “peças” cada vez mais curtas e desprovidas de substância.

Editores há na Europa que perceberam este descontentamento e esta insatisfação. Como em França. Historicamente, a primeira iniciativa terá sido a do Courrier International, em Novembro de 1990. Um conceito simples : sair do meio jornalístico “hexagonal” e propor semanalmente abordagens da actualidade publicadas por jornais de outros países. E o sucesso está à vista : uma difusão paga de 216 534 exemplares.

Duas iniciativas recentes : o bimestral La Revue internationale des Livres et des Idées, em Setembro de 2007, e o mensal Books, em Dezembro de 2008. Ambas procuram tratar da “actualidade pelos livros do mundo”, dando larga importância ao que se publica fora de França, em textos assinados por autores não francófonos. Mas o grande novidade é XXI, um trimestral de 210 páginas lançado no Inverno de 2007-08. Consagrado ao jornalismo de inquérito e de reportagem, um ano depois vende 35 mil exemplares em média.

Iniciativas que provam haver leitores que não se conformam com abordagens tacanhamente nacionais da actualidade. Nem com a incapacidade em dar largas à estética da escrita e da ilustração, insuflando nos leitores uma réstia de prazer e de inteligência…


Artigo de J.-M. Nobre-Correia, professor na Université Libre de Bruxelles
Diário de Notícias, 7 Mar. 2009
Fonte Clube dos Jornalistas

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