domingo, outubro 14, 2007

CULTURA ERUDITA, CULTURA POPULAR, CULTURA DE MASSAS

"Questionamento à volta de três noções (a grande cultura, a cultura popular, a cultura de massas)" é o título de um ensaio, da autoria de Maria de Lourdes Lima dos Santos, que foi analisado por Gisela Gonçalves num artigo trabalhado na aula do dia 8 de Outubro e a continuar na aula do dia 15 de Outubro.

PONTOS PRINCIPAIS A DEBATER:
  • grande cultura/ cultura popular/ cultura de massas
    · Sociologia da cultura, que se dedica ao estudo das obras de produção nobre (domínio do saber constituído),
    · a sociologia da vida quotidiana, que como o nome indica, estuda as práticas culturais no domínio da experiência existencial
    · e a sociologia da comunicação, concentrada nas manifestações da cultura de massas.
  • "Mercantilização da produção cultural"/ quais as novas formas ligadas à produção em série e qual o efeito da reprodutividade na avaliação das legitimidades culturais.
  • Pierre Bourdieu (campo social, habitus e homologia)
    capital cultural (conhecimentos legítimos),
    capital social ( diferentes tipos de relações valorizadas)
    capital simbólico (prestígio e honra social),
    Todas as configurações sociais passíveis de se estabelecerem entre os quatro tipos de capital, desenvolvem-se sobre um espaço pré-configurado a que Bourdieu denomina «Campo social» : "Eu defino um campo como uma rede, ou uma configuração, de relações objectivas entre posições definidas objectivamente, na sua existência e nas determinações que impõem aos seus ocupantes, agentes ou instituições, pela sua situação presente e potencial ... na estrutura de distribuição do poder (ou capital), cuja posse comanda o acesso aos benefícios específicos que estão em jogo no campo, assim como pelas suas relações objectivas com outras posições... " (EXCERTO)
    Como essas posições sociais são estruturadas em termos de relação de poder estabelecem-se relações de dominação, subordinação ou equivalência (homologia) com outras, em virtude do acesso que possuem aos bens ou fontes (capital) que estão em jogo no campo.

  • produtos da cultura de massas - são efémeras

  • É caso para questionar, "O que aconteceu à cultura popular com a massificação da cultura?". Segundo a autora Mª de Lourdes Lima dos Santos há duas posições principais: ou sobreviveu amordaçada, reproduzindo-se até aos nossos dias; sobrevivendo adulterada sob o controlo e a tolerância das autoridades - caso do aproveitamento turístico do folclore; ou então, não ficou reduzida a esta concepção restrita de cultura - jogos, festas, tradições - mas alargou-se e actualizou-se.
  • críticos - a quem se reconhece competência para definir a legitimidade cultural das novas obras. O crítico conhecedor é a figura que sustenta o culto da raridade da obra d’arte, do mito carismático do criador singular - a legitimidade cultural. O crítico é também o mediador que assegura a boa conjugação entre poder, riqueza e saber, garante do gosto cultivado e regido por um conhecimento especializado.

  • consumismo cultural

A lógica consumista separa um "Antes" e um "Depois" da cultura moderna: "Antes" existia uma dinâmica interna dos grupos, onde as trocas se efectuavam ao ritmo das necessidades desses públicos; "Depois" toda a dinâmica, desde a produção ao consumo é ordenada por leis comerciais e a circulação de bens culturais é determinada por uma lógica externa - critérios económicos e não culturais. "Antes" existiam "Públicos de Cultura", "Depois" há um"Mercado de Cultura", consumidores e espaços consumistas.

  • culturas urbanas, cultura da massa, cultura de consumo, cultura mediática, indústrias culturais. Cultura urbana demarca-se mais facilmente das outras expressões porque têm audiências socialmente bastante diferenciadas e uma difusão restrita, se comparada com a cultura mediática nacional e internacional.
  • A cultura de massa, a cultura de consumo, a cultura mediática e indústrias de cultura são conceitos sinónimos, e que têm como referente o sector de produção, reprodução e difusão de bens e serviços culturais de série, regido por critérios prioritariamente económicos.
    Esta terminologia é utilizada contraposta ao conceito de grande cultura, cultura dominante, ou cultura de elite, que por sua vez se opõe a cultura popular, pequena tradição ou cultura tradicional.
  • Umberto Eco, na obra "Apocalípticos e Integrados" disserta sobre a noção de "Cultura de massas", considerando-a ambígua e imprópria.
    Do lado dos Apocalípticos há uma perspectiva pessimista da cultura de massas. No sentido tradicional, a cultura é um facto aristocrático, a cultivação ociosa, assídua e solitária de uma interioridade que se afina e se opõe à da multidão; só atingida pelas classes que dispunham de ócio para se dedicarem à cultivação. (...) Nesta perspectiva, a amálgama das massas só é superada por quem tiver a capacidade de lhe fugir: os "super-homens".
    Do lado dos Integrados a perspectiva já é optimista. Estes defendem que estamos a viver, com a cultura de massas, uma época de alargamento da área cultural - de democratização cultural. A TV, o jornal, a rádio, o cinema, a banda desenhada, o Reader’s Digest, são meios de comunicação que colocam os bens culturais à disposição de todos.

  • Críticas e defesas à cultura de massas
    1) Crítica: Os mass media dirigem-se ao público em geral; difundem por todo o globo uma cultura de tipo homogéneo; destroem as características culturais de cada grupo étnico - perda da consciência própria de grupo cultural com características específicas. Por isso, o público não manifesta exigências perante a cultura de massa; apenas se sujeita às suas propostas sem saber; Defesa: Ao contribuírem para a homogeneização do gosto e da cultura, os media servem para unificar as sensibilidades nacionais - conduzem ao nacionalismo.
    2) Crítica: Os media estão inseridos num circuito comercial sendo submetidos à lei da oferta e da procura - defender a cultura de massas é rebaixar a cultura superior ao mesmo nível dos outros bens de consumo. E quando difundem a cultura superior difundem-na "condensada" na forma mais económica e mais facilmente assimilável (por exemplo, fascículos de grandes pintores, grandes maestros, etc). Esta crítica é bem ilustrada pela frase de Hannah Arendt, «A cultura de massas faz dos clássicos não obras a compreender mas produtos a consumir»; Defesa: A cultura de massas não veio tomar o lugar de uma cultura superior. Apenas se difundiu junto das grandes massas populacionais que antes não tinham acesso aos bens de cultura. A indústria cultural permitiu a democratização da cultura.
    3) Crítica: Os media encorajam a uma visão acrítica e passiva do mundo porque ao nível de conteúdo, dão grande informação sobre o presente, "entorpecendo" qualquer consciência histórica. Os media tendem a provocar emoções em vez de a representarem; em vez de sugerirem uma emoção entregam-na já confeccionada. Defesa: A grande acumulação de informação não resulta em apatismo mas sim em formação, porque a variedade de informação sensibiliza o homem perante o mundo. Segundo Umberto Eco, toda esta problemática se encontra mal formulada. A defesa dos mass media peca por um certo "liberalismo económico": a convicção de que a circulação livre e intensiva dos vários produtos culturais de massas seja naturalmente boa e não necessita de ser submetida a uma orientação. Esquecem o facto de que a partir do momento em que a cultura é produzida por grupos de poder económico com fins lucrativos, fica submetida a todas as leis económicas que regulam o fabrico, a venda e o consumo dos outros produtos industriais: o produto deve agradar ao cliente, não lhe deve causar problemas, o cliente deve desejar o produto e ser induzido à sua progressiva substituição. «O erro dos apocalípticos-aristocratas é o de pensarem que a cultura de massas seja radicalmente má precisamente porque é um produto industrial, e que hoje possa acontecer uma cultura que se subtraia ao condicionalismo indústrial».
    (citação de UMBERTO ECO).
  • DILEMAS DA CULTURA DE CONSUMO


Primeiro, ao observar a antinomia inovação/standartização, constata que para lá da oferta de produtos standart, as indústrias culturais tendem a desenvolver uma oferta de produtos para públicos diferenciados, logo, a disputa pelos públicos consumidores pode abrir lugar à inovação. Da mesma forma, a natureza diferenciada das indústrias culturais constitui um factor de relativização dos efeitos massificadores que lhes podem ser imputados.
Um outro dilema importante, também referido por Lima dos Santos, é o dos interesses culturais versus interesses económicos. A inovação e a criação original é quase sempre uma ameaça financeira a evitar - caso dos produtores independentes e suas dificuldades financeiras. Por outro lado, há penetração do capital na produção, circulação e consumo cultural. Este processo organiza-se segundo um jogo com duas lógicas contrárias: reprodutibilidade capitalista e raridade da obra. O trabalho cultural ao ser inserido no processo da Indústria Cultural, transforma-se em trabalho colectivo. Por isso, continua a ser valorizado segundo o ideal do criador e princípio da raridade. É o exemplo do star-system.

ADVERTÊNCIA: As partes em itálico são excertos do artigo de Gisela Gonçalves.

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