sábado, setembro 22, 2007

“A Verdade Confiscada - escândalo, a armadilha da nova censura"

As verdades construídas
Por: Bárbara Pereira

Joaquim Letria, autor dos livros A Verdade Confiscada e Histórias para Ler e Deitar Fora, iniciou a sua carreira de jornalista em 1962, no Diário de Lisboa. Foi repórter em Londres e director da informação não diária da RTP. Interrompeu a sua actividade jornalística para colaborar como porta-voz do Presidente da República e abandonou-a em 1989. Actualmente, desenvolve a sua actividade profissional como consultor de comunicação e gestão de informação para empresas nacionais e multinacionais e para administrações públicas de diferentes estados.
O autor aproveita a sua longa experiência profissional para dar a conhecer a sua visão negativa face ao jornalismo actual. Colaborador de inúmeros jornais e revistas, assim como, de vários programas de rádio e televisão, reprova os Meios de Comunicação e o Poder Político.
A obra compreende essencialmente três temas, o papel de jornalista, a sociedade globalizada e o fenómeno da Internet. Segundo este, a Imprensa tem decaído cada vez mais, vivendo obcecada com personalidades, histórias sensacionalistas, sexo e marginalidade.
Neste sentido, o autor, considera que os Meios de Comunicação Social não mostram o mundo e as pessoas como elas são. Eles mostram-nos “verdades construídas” (Joaquim Letria, 13, 1998). Esta realidade é-nos difundida de forma a não entrar em conflito com a nossa consciência. Os Meios de Comunicação procuram indicar-nos, de forma subtil, o caminho a seguir, de acordo com os seus interesses.
Este repreende, ainda, os jogos de conveniência, os negócios, a persuasão e as influências que se escondem por detrás de uma notícia.
O escritor analisa as mudanças ocorridas, ao longo do tempo, nos Meios de Comunicação e na profissão de jornalista. Cada vez mais, o jornalista tem de escolher entre a grande informação de que dispõe e aquela que quer, ou que lhe é imposta, para que chegue ao público. Em contrapartida, hoje em dia, o público tem várias opções de escolha, o que nunca aconteceu anteriormente.
A grande competição pelas audiências está igualmente a afectar o espírito dos média e a influenciar negativamente o público. Se por um lado, o debate de ideias e os programas de acção se tornaram superficiais, desinteressantes e inconsequentes, por outro, a Imprensa não perdeu muita influência na formação da opinião pública. A tendência é para que tudo se torne espectáculo. Desta forma, encobrem-se os verdadeiros problemas e não se fala do que realmente é importante para a sociedade.
Joaquim Letria aborda, com alguma exuberância, a relação entre os Órgãos do Poder e os Meios de Comunicação Social. Conforme o autor explica, o espectáculo ou escândalo, que cada vez mais se favorece nos média, tem como finalidade a eliminação política ou profissional de alguém. Assim sendo, os grandes grupos económicos ligam-se ao meio do jornalismo para obterem influência politica e social.
Note-se ainda, que o autor menciona o facto da profissão de jornalista ter conquistado repentinamente um grande interesse. Esta procura desmedida reflecte-se negativamente na nossa sociedade e no jornalismo dos nossos dias.
Por outro lado, é destacado o fenómeno da Internet. Esta, para além de interligar milhões de pessoas, veio informar-nos. A Internet introduziu a liberdade de escolha e o acesso ao mundo, na nossa sociedade. Desta forma, o público apenas consome aquilo que quer.
Com a Internet as pessoas começaram a aperceber-se de como estavam a ser manipuladas, tanto pelos órgãos de comunicação, como pelo poder político.
A presente obra ajuda a entender as mudanças ocorridas na sociedade e os mecanismos que influenciam a forma e o conteúdo das notícias, resultado da rápida transformação dos Meios de Comunicação Social e do aparecimento da Internet.

Comentário

Ao ler a obra verifiquei que a mesma, apesar de ter sido escrita em 1998, ainda exemplifica a actividade jornalística vivida em Portugal nos nossos dias.
Os Meios de Comunicação Social, continuam a dissimular e a persuadir a sociedade, de tal forma que muitas vezes não nos apercebemos do estado deplorável em que a nossa economia e política se encontram. Na realidade, os Meios de Comunicação Social e o Poder Político continuam a manipular a população, consciente ou inconscientemente, nomeadamente os grupos sociais com uma situação socio-económica e um nível de educação mais baixo. Apesar das dificuldades que o país atravessa, os Meios de Comunicação e o Governo, tendem a transmitir a ideia de que o país está em ascensão contínua. No entanto, o que se verifica é o endividamento cada vez mais elevado, por parte das famílias portuguesas. Uma situação, muitas vezes promovida pela Comunicação Social.
Joaquim Letria refere que os meios de comunicação vieram substituir as tarefas que, até há bem pouco pertenciam à Família, Escola e Igreja, no processo de socialização. Hoje em dia, esta é uma realidade cada vez mais visível. São os Meios de Comunicação Social que influenciam a forma de pensar, agir e vestir. A moda é-nos difundida através deles.
Do mesmo modo, são os Meios de Comunicação que culpam ou inocentam uma pessoa, mesmo antes da sentença ser proferida pelo Poder Supremo. Daqui advém a designação atribuída de “Quarto Poder”. Esta é desprestigiada pelo autor, incapaz de a aceitar como um instrumento de defesa da Democracia. A sua opinião é-nos fundamentada pela forma perversa de como os média invadem a nossa privacidade, desvalorizam todos os valores e derrubam a moralidade. Casos concretos desta forma de comunicação são os programas televisivos como a telenovela “Jura” ou o reality show “Fiel ou Infiel”. Em consequência desta falta de tradições, a sociedade começa a refugiar-se em grupos, seitas, religiões ou novas Igrejas.
Em suma, penso que o livro A Verdade Confiscada pode ser considerado polémico no sentido de dar a conhecer as verdadeiras intenções por parte dos órgãos de comunicação, ao publicar determinada notícia, no entanto, esta abordagem permite também reflectir sobre a actualidade e ter uma melhor perspectiva do universo comunicacional.
O livro manifesta-se como um “desabafo” por parte do autor, pela sua incompreensão, de como os média esqueceram o papel que lhes compete e deles é esperado: informar com veracidade o público. Ele considera mesmo, que o importante é que o público encontre um sinal de esperança nas linhas de um jornal, nas palavras difundidas pela rádio ou nas imagens transmitidas pela televisão.
Recensão realizada por: Bárbara Pereira, ISVOUGA, Dezembro de 2006
Título do Livro: “A Verdade Confiscada – a armadilha da nova censura” Autor: Joaquim Letria Editora: Editorial Notícias Cidade de Edição: Lisboa Ano de Edição: 1998
NOTA: Os textos assinados são da inteira responsabilidade dos seus autores.

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